terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Dudzicopa 18 - Aproximar ou afastar para jogar

O décimo sétimo dia da Copa do Mundo outra vez me fez pensar nas diferentes formas de enxergar o jogo e naquilo que os treinadores precisam considerar na hora de decidir como querem que suas equipes joguem. Falo especificamente das diferenças nas formas que Espanha e Portugal atuaram na tarde desta terça-feira. 

Fundamentalmente estamos falando da ideia de aproximar jogadores para jogar ou afastá-los para abrir espaços na defesa do adversário. Eu já tratei desse tema no Dudzicopa quando falei da estreia da Espanha e da simetria no campo, da intensidade dos EUA para bagunçar a Inglaterra e da cultura futebolística de cada país e do lugar disso na Copa

Talvez eu esteja meio fissurado nisso, mas estou arranjando muitas explicações decorrentes dessa noção que, para mim, norteia quase tudo que um time faz em campo.

Em resumo: se eu me aproximo pra jogar, eu otimizo um jogo mais curto e dou liberdade quase que total para os jogadores bagunçarem o adversário. Em contrapartida, posso ficar muito dependente de momentos de inspiração ou da capacidade técnica dos atletas. Fora a questão defensiva, que pode resultar em total desorganização.

Se eu me afasto para jogar eu aumento o campo e dificulto a tarefa dos atletas adversários, enquanto aposto em movimentações muito bem coordenadas para aproveitar espaços abertos. Em contrapartida, posso ficar muito previsível e ter atletas influentes alijados do jogo por muito tempo. Na questão defensiva, normalmente estou mais precavido, mas posso sofrer com poucos jogadores próximos da bola. 

É algo muito simplista o que eu disse. Dá pra ter um monte de elementos de um na ideia do outro e evidentemente há muito mais sobre jogar futebol do que isso. Meu objetivo é só frisar a prevalência disso no meu modo de enxergar futebol, sobretudo nos jogos de hoje. 

Para mim a Espanha parou no Marrocos essencialmente porque não conseguiu tirar o adversário de posição. Ou seja, bagunçar a defesa marroquina. Os espanhóis praticam o jogo de posição (ou tentam) e por isso preconizam que os jogadores devem ocupar espaços no campo e que a bola chegará até eles. Coloco aqui imagem do Branko Nikovski, analista e licença A da UEFA para ilustrar:


Ele colocou algumas outras também no post dele:

A Espanha se organiza assim para atacar e o Marrocos fez um grande trabalho para impedir que isso tivesse sucesso. Para que funcionasse, espanhóis precisariam girar mais rápido a bola, ou ter algumas vitórias individuais em dribles, reconhecer o homem livre e dar passes mais agudos. Dava pra ganhar jogando assim, mas não com a execução que eles tiveram, que foi muito muito fraca. Apenas 13 chutes a gol e só um certo em 120 minutos com um xG (gols esperados) de 1,01. Isso com 77% da posse de bola.

Já Portugal adota outra forma de atacar. Inclusive me chamou muito a atenção na preparação para o Mundial naquele amistoso contra a Nigéria (4 a 0) como Fernando Santos instruiu o time a ter amplitude apenas com os laterais e acumulou muita gente pelo meio do campo. Isso tem se repetido nessa Copa do Mundo e aconteceu hoje. Não achei ainda na câmera tática, mas esses prints ajudam:



 


Jogadores se aproximam para jogar. Os pontas não ficam grudados no lado do campo. 
Com isso foi favorecido o jogo de tabelas e movimentação mais curta dos jogadores portugueses. 
Hoje funcionou muito muito bem, embora há que se dizer que a Suíça foi muito mal também. Tanto defendendo quanto tentando desarmar e contra-atacar. 

Os mapas de calor do Sofascore e de passes do @markstatsbot ajudam a visualizar um pouco melhor a diferença entre portugueses e espanhóis na hora de atacar:







Como sempre faço questão de ressaltar, não há certo ou errado, mas sim diferentes formas de interpretar o jogo. A Espanha provavelmente não se daria tão bem aproximando jogadores, pois os atletas convocados tem mais cacoete do jogo de posição. Portugal mais rígido com a posse significaria João Felix preso no lado do campo e Bernardo Silva e Bruno Fernandes se encontrando menos... 

Enfim! Cansei. Vale pensar nisso! 



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