terça-feira, 31 de julho de 2012

Uruguai perde e sonho pode virar pesadelo olímpico

O tal do sonho e sono de Tabárez virou pesadelo nesta segunda-feira. Depois de ter conquistado a duras penas a vitória sobre os Emirados Árabes Unidos e ver seu time bem encaixado no esquema tático, o técnico uruguaio teve que dormir pensando na derrota por 2 a 0 para o Senegal. Desvantagem que aconteceu ainda no primeiro tempo - dois gols de escanteio - e com a qual os uruguaios não souberam lidar, mesmo tendo um jogador a mais desde os 30 minutos. Faltou inteligência e intensidade para a Celeste, que agora precisa de uma vitória para não ser eliminada na primeira fase da competição. 

No domingo Tabárez deu a mão à palmatória e escalou o Uruguai da mesma forma que a equipe havia triunfado no segundo tempo da estreia nos Jogos Olímpicos. Ou seja: com uma linha de quatro atrás e com Lodeiro de enganche e Ramírez a seu lado. O começo do jogo contra Senegal, no entanto, mostrou os uruguaios sem concentração alguma. Com a intensidade física e a velocidade - características marcantes da equipe africana - os senegaleses colocaram o Uruguai contra as cordas e abriram o placar aos nove minutos. Na cobrança de escanteio Gastón Ramírez perdeu o adversário que deveria marcar e no rebote Konate anotou. A sequência do jogo mostrou a Celeste tentando jogar, mas de forma pouco inteligente, com muitas bolas longas, e com dificuldade extrema para ganhar qualquer lance dos altos e fortes defensores de Senegal. 

Um momento que poderia/deveria ser crucial para o jogo veio aos 30 minutos, quando o zagueiro Ba foi expulso depois de somar dois cartões amarelos. A vantagem númerica, porém, não foi traduzida em lances produtivos. Pior: Antes do fim do primeiro tempo Konate, outra vez, marcou de cabeça após cobrança de escanteio. Méritos dos senegaleses e outra vez deméritos da defesa uruguaia, já que Cavani não marcou quem deveria. 


Uruguai no 4-3-1-2, com Lodeiro de enganche, Ramirez apoiando pela esquerda e Suárez e Cavani se movimentando à frente. Depois dos 30 minutos, mesmo com um jogador a mais os uruguaios não foram capazes de furar as duas linhas de quatro senegaleses. A compactação, a intensidade e a força dos marcadores de Senegal minou qualquer esforço dos técnicos Lodeiro e Ramírez e do veloz Suárez.  Vale dizer: Tabárez inverteu os laterais durante a partida por conta da ameaça de Mane pela direita. Vendo que Albin não dava conta, El Maestro mandou Arias para aquele lado.


No segundo tempo o Uruguai voltou com Abel Hernández no lugar de Calzada. A ideia era dar mais opções no setor ofensivo e também aliviar a situação de Gaston Ramírez, dando mais espaço para que o jogador do Bologna pudesse criar. A segunda parte funcionou, mas o camisa 10, apesar de bons lançamentos, não conseguiu o suficiente para o Uruguai diminuir. Muito também por causa da apatia de Cavani e das arrancadas atabalhoadas de Luis Suárez. 

No segundo tempo o Uruguai veio com três atacantes e deixou Ramírez com mais espaço para jogar. Não funcionou. A marcação de Senegal continuou sendo perfeita e as poucas chances da Celeste não lograram êxito. 

Numa última tentativa desesperada, Tabárez colocou o Uruguai numa espécie de 3-4-3 com as entradas de Urretavizcaya no lugar de Albín e de Viudez na vaga de Lodeiro. Mais uma vez não funcionou. 

Nos últimos minutos, Viudez tentou fazer a bola chegar até o trio de frente com velocidade, enquanto Ramírez abusou dos lançamentos. No fim, nem Suárez, nem Cavani, nem Hernández tiveram chances claras de marcar.

Alguns jornalistas contestaram a ideia de Tabárez manter três zagueiros contra somente um atacante senegalês. O problema é que os africanos pareciam não sentir cansaço algum e tanto Mane, quanto Souare continuaram sendo ameaças até o fim da partida. 

Enfim... Nesta quarta-feira o Uruguai precisa vencer e o técnico da Celeste já anunciou mudanças. A equipe deverá vir a campo num 4-3-3 com: Campaña; Arias, Coates, Rolín e Aguirregaray; Arévalo, Torito Rodríguez e Ramírez; Viudez, Suárez e Cavani. 

Essa é a formação hipotética, uma vez que Tabárez pode armar, com os mesmos jogadores, um 3-4-3, um 4-4-2 ou um 3-5-2, dependendo do posicionamento de Aguirregaray, Arias, Cavani e Viudez. É mais uma tentativa de fazer a bola chegar até a dupla de ataque que, infelizmente para os uruguaios, ainda não funcionou nestas Olimpíadas. 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O sonho e o sono de Tabárez

Tabárez teve uma noite de sono sofrida de quinta pra sexta. De um lado pôde relaxar com a boa vitória por 2 a 1 sobre os Emirados Árabes Unidos, resultado que dá tranquilidade para o restante da fase de grupos do torneio de futebol das Olimpíadas. Por outro, el Maestro certamente ficou ruminando e remoendo pensamentos sobre o esquema tático da Celeste. 

O 3-4-1-2 que ele tanto tenta colocar em prática na seleção não funcionou de novo, como já não tinha funcionado nas Eliminatórias para 2010, na estreia da Copa e em alguns momentos da preparação para os Jogos. Mesmo assim, Tabárez insiste em ver o time jogando desta maneira. Não é uma questão de desempenho, uma vez que a equipe teve ótimos momentos nos últimos dois anos jogando no 4-3-3, no 4-4-1-1 e no 4-3-1-2, mas de preferência mesmo. Ao virar de um lado pra outro da cama e lembrar do desempenho nos primeiros 45 minutos desta estreia, o técnico da seleção uruguaia pode ter desistido outra vez.

No primeiro tempo o 3-4-1-2 uruguaio foi péssimo. Atuando contra o 4-4-2 emiratense, a Celeste não conseguiu coibir a boa troca de passes entre os meias centrais e os dois atacantes da equipe adversária. O motivo era claro: com o recuo dos jogadores mais avançados, os Emirados Árabes tinham espaço e tranquilidade para tocar a bola e se projetar entre a linha de defesa uruguaia e a dupla de volantes. Como o trio de zaga mantinha sua posição, Arévalo Rios e Calzada tinham que combater quase sempre quatro jogadores por aquela zona e vez ou outra ainda cobrir o avanço dos alas do Uruguai. 

Uruguai no 3-4-1-2, com Ramírez encaixotado pela marcação e zagueiros sem efetividade na faixa intermediária. Trocas de passes entre Abdulrahman, Haman, Matar e Khalil acabaram
com a defesa Celeste.

Quando Coates, Rolín e Arias quiseram avançar o bote, os comandados de Tabárez tiveram problemas. Foi assim que saiu o primeiro gol dos Emirados Árabes, com Matar recebendo um belo passe de Haman. 

As coisas também não funcionaram no âmbito ofensivo. Graças à boa marcação dos emiratenses e, novamente, ao espaço entre as linhas de defesa e meio de campo, o Uruguai só conseguiu chutões pra fente. Cavani e Suárez pouco fizeram porque pouco ficaram com a bola... Ainda assim, Luisito sofreu a falta que originou o gol de Gastón Ramírez na primeira etapa. 

O empate tranquilizou um pouco a situação uruguaia, mas Tabárez sabia que a equipe precisava mudar. Aí entrou a grande diferença do Uruguai para as demais seleções destas Olimpíadas: a preparação. Como a Celeste teve tempo para treinar, o técnico também teve tempo para testar outras formações e aperfeiçoá-las (vale conferir aqui). Desta forma o Uruguai veio para o segundo tempo com Lodeiro no lugar de Aguirregaray e voltou ao 4-3-1-2. 

No segundo tempo o 4-3-1-2 surtiu efeito. Lodeiro teve ótimo desempenho como enganche e Ramírez foi bem na armação e compactação do setor de meio de campo. Atrás, Coates e Rolín 
não tiveram problemas.

Com um jogador "a mais" no meio de campo, os uruguaios diminuíram o espaço à frente da zaga e começaram a conectar melhor os ataques. Foi assim que Suárez recebeu na esquerda, passou pela marcação e deixou Lodeiro chutar para marcar o 2 a 1. Daí em diante só deu Uruguai. 

Ciente do problema, os Emirados Árabes passaram a atuar com um a mais no meio... A solução deu  segurança defensiva à equipe árabe, mas não foi bem sucedida no quesito ataque. No final a vitória foi justa. 

Resta a dúvida sobre o que Tabárez fará para o confronto contra Senegal. Vai manter o esquema vitorioso? Ou vai insistir com seu conceito de como o time deveria atuar?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uruguai: favorito à medalha de ouro nas Olimpíadas


Os discursos e os momentos dos dois representantes sul-americanos nas Olimpíadas de Londres são bastante distintos. Enquanto o Brasil está em baixa e sofre com cobranças públicas de torcedores e até mesmo do presidente da confederação de futebol, o Uruguai vive grande momento e seu técnico fala que a ideia é preparar jogadores para o futuro. 

Discursos e motivações à parte, o fato é que as equipes brasileira e uruguaia - ao lado da espanhola - estão entre as favoritas para a conquista do ouro. Não à toa; a qualidade individual e cancha dos atletas - muitos já são titulares na Europa - coloca os sul-americanos em grande posição para pleitear o título, inédito para o Brasil e que representaria o tricampeonato da Celeste. O Uruguai, no entanto, vem melhor, não só pela falta de pressão, mas pelo fato de grande parte da equipe estar treinando há quase dois meses junta. 

O primeiro teste com os veteranos foi feito nesta quarta-feira, contra o Chile Sub-23. A partida teve o extraordinário placar de 6 a 4 para os uruguaios, o que representou bem a peleja: grande qualidade do meio pra frente e indolência no trabalho defensivo. Ainda assim o jogo serviu para Tabárez colocar os seus três "sobre-23" para jogar com os moleques. E há que se dizer: Arévalo Rios, Suárez e Cavani parecem desde já escolhas acertadíssimas de el Maestro. 

Uruguai no 4-3-3 com Arévalo marcando, e Ramirez e Calzada ajudando também no trabalho defensivo. O objetivo é um só: fazer a bola chegar com qualidade para Suárez e Cavani. 

Diferentemente do usual 4-3-3 do time principal, que conta com dois marcadores implacáveis (Pérez e Arévalo) e um homem de saída de bola, mas também marcação (Palito Pereira), Tabárez mandou o time a campo com um volante pegador (Arévalo), um de saída (Calzada) e um meia autêntico (Gastón Ramírez). O motivo é claro: o terceiro homem de frente do Uruguai é Urretavizcaya, que ajuda demais no combate na linha de meio de campo, ao contrário de Forlán, Cavani e Suárez. Assim os camisas 7 e 9 devem ter mais liberdade com a seleção olímpica, e também devem receber mais bolas durante os jogos, uma vez que, apesar da boa experiência na Copa, Forlán não tem conseguido fazer com correção o recuo para a armação de jogadas. É importante ficar de olho no desempenho da equipe desta maneira, porque pode significar uma mudança no pós-Olimpíada para a equipe principal, por mais doloroso que seja tirar Forlán, Cavani ou Suárez do time titular. 

O início da partida contra os chilenos foi terrível. O Uruguai levou dois gols em 10 minutos e deixou péssima impressão, sobretudo no setor defensivo, onde Coates destoou demais. De toda maneira, a partir dos 20 do primeiro tempo a equipe reagiu. Arévalo tomou conta do meio de campo e até lançamentos começou a acertar. Suárez (2x) e Cavani deram a virada aos uruguaios ainda na etapa inicial. 

Com a vitória parcial e bom momento psicológico do time, Tabárez decidiu testar variações para os Jogos Olímpicos e mandou a equipe em um 3-4-1-2 bastante assimétrico, com Ramirez flutuando muito entre o centro e o lado esquerdo do campo e com Urretavizcaya fazendo um ala direito bastante avançado.

No segundo tempo o lateral-direito Arias passou a jogar como terceiro zagueiro, enquanto Albin avançou um pouco e Urretavizcaya atuou mais recuado. 

Jogando desta maneira o Uruguai fez mais dois gols: um de Suárez, com ótima enfiada de bola de Ramirez, e outro de Cavani, quando Rodríguez e Aguirregaray já estavam em campo. As substituições que resultaram no 5 a 2 foram as primeiras de uma série de testes do técnico uruguaio, que ainda viu sua equipe fazer mais um gol e tomar dois. 

Após diversas mudanças, Tabárez testou um 5-3-2 para testar uma nova formação e dar cancha aos jogadores considerados reservas.

Em suma: o primeiro grande teste foi satisfatório, mas o Uruguai precisa urgentemente tratar do setor defensivo. Coates não pode continuar como titular com atuações deste nível, enquanto Rolín ainda peca pela inexperiência. Os laterais foram bem e Campaña mostrou que pode ser titular sem sustos. Do meio pra frente nada a retocar, só a aprimorar. É assim que o Uruguai vai em busca da medalha. A dourada.