sexta-feira, 5 de novembro de 2021

#MOT 03 - Não é uma fase...

 Não sabe o que é essa seção do blog? Aqui eu explico: http://dynamodudziak.blogspot.com/2021/09/mot-01-o-comeco-da-temporada-21-22.html


Três vitórias em 13 jogos não é mais má fase... É situação mesmo. Até agora o Leeds venceu apenas o Crewe Alexandra na Copa da Liga, o Watford e o Norwich. De resto apenas empates e derrotas... A pergunta segue sendo: o que mudou nesse time? As respostas seguem difíceis de serem encontradas. 

Alguns torcedores acham que o problema é a defesa, mas na temporada passada, quando o Leeds chegou em nono, ela já era ruim assim mesmo. Os 54 gols sofridos em 38 jogos representam uma média de 1,47 gols sofridos por jogo. Os 17 sofridos em 10 jogos agora representam 1,7 por jogo. Foi justamente essa a média do time antes dos últimos onze jogos da temporada passada, quando a defesa melhorou bastante, sofrendo apenas oito gols, mesmo enfrentando Manchester United, City, Chelsea, Tottenham e Liverpool. 

O que está muito diferente, no entanto, é o ataque. Na temporada 20-21 o Leeds marcou 62 gols em 38 jogos, o que dá uma média de 1,63 por partida. Nesta são 10 gols em 10 jogos... No fundo, era o ataque prolífico e não a defesa sólida que levavam o Leeds adiante. Por isso, me parece que tentativas de melhora na classificação deste ano precisam passar por atacar melhor. E por que o Leeds parou de atacar bem?

O fato do artilheiro Patrick Bamford ter atuado em apenas cinco jogos na Premier League certamente ajuda a explicar, mas não enseja toda a complexidade da coisa a meu ver. Teoricamente a ausência de Bamford permitiria a Rodrigo Moreno jogar mais perto do gol e desequilibrar mais os jogos, como se achava que ele faria quando foi contratado e como ele não estava fazendo jogando como camisa 10 do time. Na prática, porém, Rodrigo não mostrou essa capacidade até agora. Me parece que tem uma questão do físico, que não o permite disputar no corpo com os zagueiros adversários e uma questão de característica mesmo, já que o espanhol não é muito afeito às corridas em profundidade para levar a linha defensiva para longe. Rodrigo gosta da bola no pé, da movimentação e da associação com passes. Não seria exatamente um problema, se alguém pudesse ajudá-lo na tarefa, mas se ele fica aqui, ninguém está lá na área para empurrar a defesa e dar a ele o espaço que ele precisa. 

Além de Rodrigo não ser esse cara no momento, parece que Tyler Roberts também não será. O camisa 11 tem sido uma grande frustração. Você vê que ele tem qualidades, que ele sabe o que fazer com a bola, mas quase nunca ele entrega o que pensa em fazer. E se a camisa 9 está com esses problemas, o que dizer de Harrison e James? Os dois correm, correm e raramente entregam algo no fim dessas corridas. E não é que sejam maus jogadores! Longe disso! Mas a fase de ambos é ruim, a de Harrison mais que a de James. Além disso Klich não tem entregado a criação que se espera e com as lesões de Ayling e Firpo, Dallas não joga mais no meio... Quando jogou o norte-irlandês também foi mal. 

Então, neste momento, coletivamente, o Leeds cria pouco, cria mal e muitas vezes finaliza mal também. Nos últimos jogos, inclusive, o único desafogo tem sido dar a bola para Raphinha tentar resolver tudoNão fosse por ele a situação seria ainda pior.  Mas não dá para o Leeds seguir tão dependente assim de um atleta. Não por capricho ou filosofia e sim porque não é possível jogar sozinho nesse nível. 


Bom, falei aqui da parte individual do porquê o ataque não tem funcionado na minha visão. E considero impossível que tantos jogadores fiquem tão mal ao mesmo tempo sem razões coletivas...

No entanto, o que mudou coletivamente? Sinceramente acho que pouca coisa. Muitos torcedores culpam a falta de um meio de campo, o que estaria fazendo o Leeds ser muito mais direto do que antes. A bola pula da zaga para o ataque e isso, segundo muitos, tem a ver com a falta de meiocampistas confiáveis para fazer o jogo transitar por ali. Isso é verdade. Basta o adversário subir a marcação para que os Whites se vejam sem opções de saídas curtas. 
Mas era assim ano passado também! Talvez um pouco menos do que nessa temporada, porém, os grandes momentos do Leeds eram quando o time transformava jogos de futebol em jogos de basquete, naquelas situações de que quem ganha a bola sai correndo, quem retoma corre de volta e por aí vamos. 

Às vezes controle do jogo com construções mais curtas poderia fazer bem ao time, mas isso significa correr mais riscos na saída de bola, algo que o Leeds não tem feito quando é pressionado lá atrás. Inclusive, tenho a suspeita de que a
 falta de saída de bola me parece que é imposta pelos adversários, mas também é uma "arma" do Leeds. Bielsa não costuma adaptar muito a saída de bola do time dele. Ao menos não na Inglaterra. Normalmente os dois zagueiros abrem, Kalvin Phillips se posiciona à frente e os laterais avançam... Na prática ficam cinco do meio pra trás e cinco do meio pra frente (o 8, o 10, dois pontas e o 9). Raramente esses atletas de frente descem pra construir... Então Bielsa meio que assume a situação e pensa que se subirem quatro ou cinco do adversário para tirar a saída de bola, significa que do outro lado do campo é possível ter cinco contra cinco ou seis. Os lançamentos, no entanto, não estão saindo como deveriam e o Leeds muitas vezes simplesmente devolve a bola, sem sequer ganhar metros no campo. 


Uma solução para tentar jogar mais curto seria ter jogadores mais afeitos a saírem da pressão mesmo pressionados. Mas não é o caso agora. Kalvin Phillips é o melhor deles, mas quando bem cercado fica fora do jogo. As carregadas de bola de Llorente ajudam, mas é só. Cooper, Dallas, Shackleton e em menor medida Struijk têm dificuldades para fazer esse tipo de jogo. Firpo quando jogou não teve tanto impacto também. Então de fato fica um time bem travado nesse quesito. 

Só nesse texto rápido estamos falando que jogadores de ataque não estão bem e os de trás e de meio não conseguem resolver situações que poderiam favorecer os demais. Com a maioria dos outros treinadores a discussão sobre um time que individualmente está mal e coletivamente não entrega seria a de mudanças radicais no estilo de jogo ou em adaptações gigantescas para mudar a forma de a equipe atuar. No entanto, em se tratando de Bielsa não há plano B. Como ele mesmo diz, o plano B é o plano A melhor executado.

Não adianta apontar o dedo. Bielsa acredita nisso. Toda a filosofia de trabalho dele tem a ver com isso. Uma ideia, treinamento, reforçar a ideia, fazer melhor, treinar, jogar, repetir até acertar... Pedir que ele seja diferente é justamente extirpar dele o que ele tem de melhor, o que justamente trouxe o Leeds até aqui.

Então, a
 possível solução seria mudar os jogadores que vêm atuando. No entanto, aí está o grande ponto de crítica desta temporada: o Leeds não reforçou o elenco; o Leeds trocou jogadores.

Nessa janela Firpo veio para o lugar de Alioski, James para o lugar de Hélder Costa e Klaesson para o lugar de Casilla. Embora todos no papel signifiquem acréscimos de qualidade, na prática isso ainda não ficou provado. No mais, o elenco do Leeds é o mesmo do ano passado, com os garotos um ano mais experientes, mas ainda sem serem capazes de resolverem situações nesse nível futebolístico. 

O quanto isso é culpa de Bielsa e culpa do clube é difícil de saber. Eu acho que é mais culpa de Bielsa, que tem a predileção por trabalhar com 18 jogadores profissionais e os sub-23 reforçando o elenco quando necessário. O problema é que numa situação como a atual, dos 18 principais, dois estão machucados há cinco rodadas (Bamford e Ayling), um só jogou uma vez (Koch), três ou quatro estão em fases ruins (Klich, Dallas, Harrison e James) e dois ou três talvez nunca entreguem mais do que têm entregado, ainda que às vezes isso seja insuficiente (Shackleton, Rodrigo e Roberts). Ou seja... Qual o tamanho do grupo de jogadores para decidir jogos a favor do Leeds? 

Os garotos que reforçam os 18 são bons jogadores. Drameh, Cresswell, Summerville, Gelhardt... Todos já provaram ser capazes de manter o nível dos titulares. O problema é que nesse momento é preciso ELEVAR o nível...

Como apontado, o Leeds não contratou para REFORÇAR e sim para trocar jogadores por outros que podem vir a ser melhores que os anteriores. Quando os reforços não mostram essa elevação de nível e os titulares da temporada anterior continuam sendo titulares, mas jogando pior e dois ou três titulares estão lesionados, a situação fica muito difícil.

Mas esse sou eu falando. Marcelo Bielsa não pensa assim. Para ele, Dallas e Harrison vão voltar a ser os da temporada passada. Klich pode se recuperar. Roberts vai se desenvolver em um atleta de Premier League. Rodrigo Moreno merece a confiança e por aí vamos.

Não dá pra dizer que ele está errado. Mas o que Bielsa pede aos fãs, nos tempos atuais, é a maior das loucuras... Esse deve ser o tema do próximo texto.