quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O motivador Lasarte e o sonho da Católica

A Universidad Católica recebe o São Paulo nesta quinta-feira com apenas um pensamento em mente: "si, se puede". O já tradicional cântico das torcidas sul-americanas é o alento a um time que se reconhece como inferior ao adversário brasileiro e que vive um momento de desconfiança. Afinal de contas, a equipe encerrou o Clausura chileno na décima posição - ficando fora dos playoffs - e apresentou um desempenho inconstante na Copa Sul-Americana. O torneio continental é a última esperança dos Cruzados encerrarem o ano de forma positiva. Por isso não é permitido errar, mas é necessário sonhar. É mais ou menos essa a retórica do treinador da Católica, Martín Lasarte.

O uruguaio de 51 anos é um motivador por natureza. Depois de se "especializar" em trabalhos na segunda divisão uruguaia, o técnico conseguiu dois títulos da primeira divisão com o Nacional e alçou seu mais arriscado e bem sucedido voo em território europeu. Em junho de 2009 Lasarte desembarcou na Espanha com a missão de colocar a Real Sociedad de volta na elite do país. A contratação foi definida como estranha e ousada demais pela maioria da imprensa. Pudera... O clube espanhol, envolto em dívidas e em uma espiral descendente de desempenhos, apostara em um treinador iniciante vindo da América do Sul para tentar dar a volta por cima.

Falavam em desconhecimento das condições do futebol europeu e de falta de experiência. A análise era uma meia verdade. Apesar de só ter sido técnico em território sul-americano e nos Emirados Árabes Unidos, Lasarte foi jogador e capitão do La Coruña, tendo algum conhecimento sim de como as coisas funcionavam em terras espanholas. Mais que isso, o uruguaio é filho de dois espanhóis de ascendência basca, o que tornava um sucesso com a Real Sociedad uma questão mais que profissional.

Após um começo titubeante, Lasarte achou o time com figuras vindas das canteras e contratações pontuais de atletas mais experientes. Além das quatro linhas, o uruguaio investiu na motivação daqueles jogadores, que se viam desacreditados e sem condições de devolver um clube daquela estatura ao seu lugar de direito. Em entrevista ao portal da Liga Espanhola, Lasarte fala que é essencial ter formas e formas de estimular os jogadores e diz que já usou vídeos, músicas e fotos de familiares dos atletas para mantê-los motivados. Dessa maneira a Real Sociedad não apenas subiu, como foi campeã da Segundona.

No ano seguinte Lasarte enfrentou as angústias da elite espanhola, mas resistiu e deixou o time na 15ª posição. O trabalho, no entanto, ficou aquém do que a diretoria esperava e o uruguaio deixou o clube na metade do ano passado. Um ano depois, de volta à América do Sul, o treinador assumiu a Católica.
 
Contra o São Paulo os Cruzados devem vir com duas linhas de quatro apostando na compactação para parar Lucas e Osvaldo e em inversões rápidas de jogo para suplantar a marcação de Cortez e Paulo Miranda.
 
As duas linhas de quatro da Católica contra o Independiente. Deu certo: 2 a 2 no primeiro jogo e vitória por 2 a 1 no segundo.
 
Ciente dos pontos fortes e fracos do adversário brasileiro, Lasarte já deu uma ideia de qual será o plano de jogo para quinta-feira: "Não precisamos decidir o confronto no primeiro jogo". Ciente do que precisa ser feito para manter seus jogadores imersos e otimistas com o confronto, o motivador já vaticinou: "Não importa se eles tem Luis Fabiano. Não importa se eles tem carros esportivos e vocês não! Se vencermos poderemos sonhar com o título". 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Colômbia de José Pékerman

O Brasil enfrenta nesta quarta-feira a seleção da Colômbia em amistoso de preparação para ambos os times. É a chance de a Seleção ver até que ponto o trabalho de Mano Menezes evoluiu e é a oportunidade perfeita para os colombianos se encherem ainda mais de confiança após ótimos resultados em 2012. 

Se o técnico brasileiro ainda enfrenta alguma resistência pelos avanços - que só começaram a aparecer agora, quase 2 anos e meio depois de assumir o cargo - o desempenho de José Néstor Pékerman já está pra lá de afirmado. Até o momento foram sete jogos e seis vitórias. O único tropeço foi contra o Equador, em Quito. A façanha é ainda mais digna de nota quando observamos que, com os mesmos jogadores, os técnicos Hernán Bolillo Gómez e Leonel Álvarez pouco avançaram. Pékerman chegou com o trabalho feito com a seleção argentina como seu maior trunfo. (Para saber mais sobre o treinador recomendo a leitura do perfil feito pelo colega Mário Marra).

Tal qual se esperava, o técnico argentino estreou apostando nos três zagueiros em sua primeira partida oficial, contra o Peru, pelas Eliminatórias. 

Contra os peruanos, Pékerman montou um 3-5-2 que muitas vezes virava 5-3-2. Os colombianos venceram por 1 a 0, mas não atuaram bem. 


Ao armar o time com Perea, Mosquera e Yepes, Pékerman procurou aproveitar o bom apoio de Armero e Cuadrado e também deixar James Rodríguez e Guarín livres para criar jogadas para os dois atacantes. O resultado veio, mas a duras penas, já que a atuação não foi das melhores. 

Três dias depois, contra o Equador, o técnico argentino decidiu apostar em um 4-1-4-1, com Sánchez na frente da zaga, Soto no auxílio e Guarín, James Rodríguez e Pabón livres para chegar junto a Falcao Garcia e atacar. Não deu certo e os equatorianos venceram, apesar de a seleção cafetera ter apresentado um futebol melhor. 

Após o tropeço, no entanto, veio a melhor atuação colombiana. Contra o Uruguai na quente Barranquilla, os comandados de Pékerman deram um banho coletivo e individual sobre a Celeste, que nem viu a cor da bola. A solução foi justamente um meio termo entre os dois esquemas táticos. 

Armada em um 4-3-1-2, mas com variação para 3-5-2 com os avanços dos laterais e o recuo do volante Aguilar, a Colômbia foi constante no ataque e rápida na recomposição. O resultado? 4 a 0 nos atuais campeões da Copa América

O misto entre 4-3-1-2 e 3-5-2 deu muito certo principalmente pela aptidão dos jogadores de ataque ao trabalho defensivo e à habilidade ofensiva dos alas Zuñiga e Armero. James Rodríguez cumpriu com louvor a missão de compor o meio de campo, mesmo sendo quase um atacante. Já Teófilo Gutiérrez entrou focado na seleção e deu muito trabalho apertando a saída de bola e auxiliando na defesa. O grande diferencial técnico, porém, foi Macnelly Torres, que não marca, não se mexe muito, mas é um atleta cerebral e inteligentíssimo. 

O sistema foi mantido nos jogos seguintes e, com maior entrosamento, Pékerman também passou a adicionar variantes ao esquema. Cuadrado, por exemplo - lateral de origem - virou terceiro atacante contra o Chile e mudou a partida. Macnelly Torres e James passaram a trocar de posição cada vez mais, alterando o estilo da chegada da bola ao ataque e confundindo a marcação, enquanto Valencia também começou a desempenhar a função de primeiro volante, permitindo a entrada de Aldo Ramírez no time. Vale também destacar a recomposição de Zuñiga como zagueiro nos momentos de necessidade como mostra o frame tático abaixo: 


Nesta quarta-feira Pékerman deverá manter o mesmo estilo e sistema tático. Apesar de o desafio ser enorme contra o Brasil, os colombianos devem continuar tocando bola e variando o jogo. Com Macnelly Torres e os volantes o jogo fica mais cadenciado. Com Armero e James Rodríguez a coisa é vertical. Com Falcao lá na frente é bola aérea e estilo pivô. As alternativas são muitas. O Brasil não tem tantas, mas tem mais qualidade em todos os setores do campo. Será um bom jogo.