terça-feira, 10 de março de 2020

Até aqui o Palmeiras 2020 é o da transição ofensiva!

Escrevo esse texto horas antes do duelo entre Palmeiras e Guarani pela fase de grupos da Libertadores 2020. Posso ser desmentido em breve, mas me parece que o desafio do alviverde nesta noite será o de superar um bloco defensivo baixo, ou seja, superar uma defesa que se posiciona perto do próprio gol para tentar evitar que o adversário encontre as redes. 


Até aí não há muita novidade, mas cabe observar o que o Palmeiras tem feito neste ano. Até aqui Vanderlei Luxemburgo tem dado indícios de que pretende fazer um time mais de transição ofensiva do que de organização ofensiva. Para quem não curte muito esses termos, basta saber que o jogo de futebol basicamente é composto por cinco momentos: 

• Momento ofensivo (quando o time está posicionado para atacar)
• Transição defensiva (quando o time perde a bola e se prepara para defender ou já defende por meio da pressão na bola) 
• Transição ofensiva (quando o time rouba a bola e se prepara para atacar ou já ataca)
• Momento defensivo (quando o time está posicionado para defender)
• Bola parada (faltas, escanteios, laterais...)

A grande força desse Palmeiras em 2020, por ora, está em transição ofensiva! Ou seja, o Palmeiras vai muito bem quando rouba a bola e acelera o jogo, ou quando pega o adversários voltando para a defesa depois de eles terem atacado. Para provar essa minha análise, deixo abaixo a descrição dos gols do alviverde neste ano. 


Palmeiras 4x0 Ituano 
- Gol de transição ofensiva e bate-rebate na área 
- Erro do Ituano no momento ofensivo, erro do Ituano na saída de bola, transição e gol
- Organização ofensiva, cruzamento e gol
- Organização ofensiva, Dudu, Zé e Willian 

Palmeiras 4x0 Oeste
- Gol de pênalti
- Organização ofensiva com Wesley cruzando para Willian
- Organização ofensiva com Marcos Rocha encontrando Willian na área
- Transição ofensiva após tiro de meta do adversário 

Bragantino 2x1 Palmeiras 
- Gol de pênalti

Palmeiras 1x0 Ponte Preta 
- Transição ofensiva após bola parada ofensiva da Ponte

Palmeiras 3x1 Mirassol
- Bola parada
- Transição ofensiva após tiro de meta do adversário
- Organização ofensiva com lançamento nas costas da zaga 

Palmeiras 1x0 Guarani 
- Organização ofensiva, mas com pressing do adversário no campo de ataque (espaços nas costas do meio de campo) 

Palmeiras 2x0 Tigre
- Goleiro erra saída e Palmeiras acelera
- Transição após momento ofensivo do rival (abaixo) 







Palmeiras 1x1 Ferroviária
- Organização ofensiva com jogada entre Dudu, Lucas Lima e Willian (abaixo) 

Ferroviária posicionada para defender. Palmeiras tem que atacar em organização ofensiva. Para isso coloca amplitude com Diego Barbosa e Dudu (não está na imagem) e Lucas Lima na entrelinha
O jogo sai da esquerda para a direita a fim de tentar mexer com a defesa do adversário.


Lucas Lima infiltra e recebe de Dudu. Está criada a jogada do gol



Ou seja: dos 17 gols do Palmeiras no ano, 7 foram em transição ofensiva, 7 em organização ofensiva (mas dois deles com o adversário dando muito espaço nas costas da zaga) e 3 de bola parada. 

Qual o problema disso? Nenhum! No entanto, times que se propõe a jogar dando a bola ao Palmeiras e baixando o bloco defensivo perto do próprio campo tendem a não conceder transições ofensivas. Tendem a não dar espaço para os velozes atletas do alviverde correrem. Ou seja, nestas partidas caberá ao alviverde quebrar/mexer a defesa por meio de troca de passes, inversões de jogo e dribles. O Palmeiras já conseguiu fazer isso em 20, mas normalmente quando já estava em vantagem no placar. Por isso entendo que essa é uma área na qual a equipe ainda precisa evoluir.

E isso não é um problema particular do Palmeiras! Tampouco é um problema ser um time de transição mais do que organização ofensiva, ou ser um time que gosta mais do jogo veloz do que do jogo pausado de troca de passes e imposição pela posse. O Liverpool, por exemplo, é um time essencialmente rápido, de transições ofensivas e defensivas muito intensas. Neste momento é o melhor do mundo, mas também tem problemas com blocos defensivos muito baixos. Vide o jogo contra o Atlético de Madrid pela Liga dos Campeões há duas semanas, quando os Reds sequer acertaram o gol do goleiro Oblak!  O Liverpool, no entanto, já se livrou de várias dessas situações em 2019-20 no campeonato inglês. Caberá ao Palmeiras aprender a lidar com essa situação também! 

E nesse sentido entendo que a presença de um jogador como Lucas Lima acaba sendo importante. Ele é o tipo de atleta que consegue com movimentações e passes quebrar uma defesa bem postada. Não só ele, mas o entendimento dele com outros. O quarteto Rony, Willian, Luiz Adriano e Dudu tem muita velocidade, força e finalização, mas pouca criação e passes para quebrar blocos defensivos baixos. Essa escalação é esplêndida para jogar em transição, mas pode ser problemática para jogos de times que não concedem esse momento do jogo.

Por isso, vale olhar logo mais à noite e nos próximos jogos para essa faceta do jogo palmeirense.