terça-feira, 30 de junho de 2015

Geração ruim??!

A bengala da vez foi eleita! Depois da falta de comprometimento em 2006, do excesso de pilha em 2010 e do apagão de 2014 a "análise" agora é de que o Brasil sofre com a "pior geração de atletas da história". Sem esquecer, é claro, do (co)modismo de atribuir tudo a fatores psicológicos, tema que já foi abordado aqui.

Falar em geração ruim é cair em um discurso raso que evita que olhemos para o que realmente importa: o jogo dentro de campo. A seleção brasileira teve na Copa América atletas que atuam como protagonistas nos principais clubes do mundo. Vamos lembrar?

Jefferson está na Série B com o Botafogo, mas Diego Alves (titular do Valencia e um dos melhores goleiros da Europa) poderia seguramente ser o dono da meta, caso Dunga optasse por ele.

Na direita temos Daniel Alves, protagonista do Barcelona na conquista da Liga dos Campeões e teríamos Danilo (ex-destaque do Porto e agora no Real Madrid).

Na zaga Miranda foi essencial no título espanhol do Atlético de Madrid na temporada 13-14. Thiago Silva, David Luiz e Marquinhos atuam no Paris St. Germain, uma das potências em nível continental (quartas da Champions) e o melhor time da França.

Na esquerda, Marcelo do Real Madrid poderia ter feito parte do grupo se estivesse em condições, enquanto Filipe Luís do Chelsea foi o titular.

Volantes? Temos também! Fernandinho foi titular absoluto do Manchester City, Luiz Gustavo, que se lesionou, teve intensa participação no vice-campeonato alemão do Wolfsburg, enquanto Casemiro foi destaque do Porto e volta em alta ao Real Madrid.

Entre os meias/ponteiros tivemos na Copa América Willian (uma das estrelas do Chelsea), Coutinho (para muitos o melhor jogador da Premier League) e Neymar, que dispensa comentários. No banco estavam Douglas Costa (provavelmente novo reforço do Bayern) e Robinho, que apesar da idade, ainda tem nível para ser referência técnica do time.

A posição de centroavante foi a mais carente, mas Firmino foi sucessivamente destaque do Hoffenhein, encerrou a temporada com 10 gols e foi o terceiro em assistências na Bundesliga. Já Tardelli teve seus momentos, mas caiu de desempenho na China. 


Pouco? Vamos comparar com a seleção chilena, indubitavelmente a de melhor desempenho na Copa América: Bravo (Barcelona), Vidal (Juventus) e Sanchez (Arsenal) são os únicos que defendem clubes gigantes da Europa. O lateral direito Isla foi rebaixado na Premier League com o QPR. Os zagueiros são Jara, do Mainz 05, e Medel, que apesar de atuar na Inter de Milão (longe do protagonismo de outrora) joga como volante no clube. Na esquerda está Mena, constantemente criticado no Brasil por suas atuações no Santos e Cruzeiro. O primeiro volante é Marcelo Diaz, do quase rebaixado Hamburgo e ao lado dele está Aranguiz, do Internacional. Valdívia, que praticamente não joga pelo Palmeiras, é o camisa 10, enquanto Vargas do rebaixado QPR forma o setor ofensivo ao lado de Sanchez. Já no banco chileno estão atletas do Hannover, Universidad de Chile, Boca Juniors, Brugge, Fiorentina, Twente, Atalanta, Colo-Colo e Dynamo Zagreb. 

A safra chilena é melhor que a brasileira? Não é. A menos que imaginemos que todos foram subvalorizados e não estão em clubes maiores por total cegueira dos olheiros. Não me parece muito plausível... Mas por que o Chile joga bem e muitas vezes bonito? Porque tem um trabalho exaustivo de ideia de jogo e execução de tal plano. Porque tem um técnico que não aceita que o resultado seja mais importante, pois sabe que o próprio termo denota consequência e não um fim em si mesmo. 

Os titulares colombianos estão em clubes de mais renome, mas em profundidade creio que a seleção brasileira poderia ser melhor que os cafeteros. 


Querem mais? Sou capaz de montar uma SEGUNDA seleção brasileira que teria 23 atletas de pelo menos nível semelhante ao dos chilenos. 

Goleiros: Rafael Cabral (Napoli) e Fabiano (Porto)

Defensores: Henrique (Napoli), Juan Jesus (Inter), Gabriel Paulista (Arsenal) e Mário Fernandes (CSKA)

Laterais: Guilherme Siqueira (Atl. Madrid), Rafinha (Bayern), Wendell (Leverkusen) e Alex Sandro (Porto)

Volantes: Fernando (City), Lucas Leiva (Liverpool), Lucas Silva (Real Madrid), Hernanes (Inter de Milão), Souza (São Paulo) e Ramires (Chelsea)

Meias: Talisca (Benfica), Rafael Alcantara (Barcelona), Felipe Anderson (Lazio), Oscar (Chelsea) e Lucas Moura (PSG)

Atacantes: Jonas (Benfica), Luiz Adriano (Shakhtar Donetsk) e Hulk (Zenit)

Isso sem falar em nomes como Victor, Jemerson, Rafael Carioca, Fábio, Gil, Renato Augusto, Valdívia (do Inter), Lucas (Palmeiras), Lucas Lima, Michel Bastos, Fred e Pato, que poderiam resolver uma ou outra situação específica e que estão no próprio futebol brasileiro. 

Geração ruim? Ou trabalho ruim?! 

Chega de desculpas. 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Chega de emoções! Vamos falar de futebol!

Após mais uma competição vexaminosa os críticos da seleção brasileira e do técnico Dunga, que se escondiam devido aos bons desempenhos nos insossos amistosos, voltaram à tona.

O problema? Com a avaliação errada.

Falaram em emocional de Thiago Silva. Em desequilíbrio do grupo. Em jogadores apáticos... O aspecto lúdico do futebol tomou conta dos "analistas" e dos "técnicos" de tal forma que ficamos presos em conceitos totalmente abstratos, imensuráveis e que muito provavelmente não têm essa relevância toda numa partida.

Se o time bom não vence é porque "entrou de salto alto, com soberba"
Se um time bom perde é porque "não entrou com atitude".
Se um time razoável ganha é porque "se superou na adversidade"
Se um jogador falhou no momento decisivo é porque "estava com problemas extra-campo"
Se o bom futebol não vem é porque o "jogador não respeita a camisa"

Dunga viu a Copa América como um "nós contra todos" e muitos dos jogadores devem ter entrado nesta onda do "comprometimento nos levará longe". Não é culpa exclusivamente deles. Infelizmente estamos condicionados a essa análise emocional de tudo que cerca o futebol.

O brasileiro em geral é muito emocional. O jogador brasileiro então...

Não à toa o técnico mais bem sucedido (em títulos) do futebol nacional é Luiz Felipe Scolari, famoso pelas "famílias montadas ao longo da carreira". Muricy Ramalho, longe de ser um grande estrategista, também é levado em alta estima por isso.  Luxemburgo um pouco menos, mas a preleção para Gladstone com a história da fralda e o "medo de perder tira a vontade de ganhar" ainda povoam o imaginário coletivo de uma forma absurda.

Todos que adentram esse mundo impalpável e abstrato das emoções esquecem-se do que hoje é a principal carência do futebol brasileiro e consequentemente da seleção: o jogo propriamente dito.

Foi-se o tempo em que emocional + talento decidiam tudo. E o Brasil não caiu para o Paraguai por acomodação, instabilidade psicológica ou qualquer conceito destes. O Brasil caiu porque não jogou futebol.
Porque Dunga se aferrou às desculpas ao discurso de contra tudo e contra todos para formar um time de contra-golpe que não sabe o que fazer quando se vê travado por uma marcação minimamente eficiente como foi a do Paraguai.

Isso é jogo!

É saída de bola com volantes, é abrir espaço com movimentação, é criar superioridade numérica, é potencializar pontos fortes e minimizar debilidades dentro das características dos 23 elegidos para uma Copa América.

Não adianta mostrar frases de apoio e fotos de parentes. O futebol mudou e agora é necessário jogá-lo como o esporte de alta complexidade que ele é...