segunda-feira, 30 de abril de 2012

A forma é mais importante


Após a vitória por 5 a 0 da Universidad de Chile sobre o Colo Colo, neste domingo, o técnico dos azules, Jorge Sampaolli, disse à imprensa que "mais do que o resultado, estava muito satisfeito com a forma com que sua equipe havia chegado à vitória". Vitória esta contra o maior rival do clube... 

A declaração é sintomática. Sampaolli, Bielsa, Guardiola e outros grandes têm essa opinião como norte de qualquer trabalho. O tal futebol de resultado não importa. Importa vencer, ou chegar perto disso, atuando dentro de um plano de jogo em que inevitavelmente estão contemplados movimentos com a bola, marcação sob pressão na saída do adversário, e recomposição tática rápida. Quando a Universidad de Chile ganha tomando sufoco do adversário, ou fazendo gols apenas em ocasiões fortuitas, Sampaolli fica melindrado... O mesmo acontece com Bielsa e aconteceria com Guardiola caso o Barcelona tivesse sido pior que a concorrência em algum jogo recente.

É compreensível. Todo o trabalho desses treinadores, que não à toa estão entre os dez ou vinte melhores do mundo, é formatado para que a equipe chegue aos jogos desta maneira: sabendo o que faz, prevendo o que o adversário faz e jogando dentro da proposta imaginada por seus comandantes. A forma é mais importante. 

Há treinadores, por outro lado, que pouco se importam com a forma. Pior... Há treinadores que se iludem com  resultados e esquecem de preparar o time para jogar futebol de verdade. No mesmo dia em que a U.de Chile aplicou 5 no rival Colo Colo, o São Paulo perdeu por 3 a 1 para o rival Santos. Em que se pese as falhas individuais de Paulo Miranda, Piris e Dênis, a derrota do tricolor paulista era anunciada. Durante os quatro meses do Campeonato Paulista o técnico Emerson Leão desdenhou de qualquer plano de jogo ou preparação para os confrontos contra equipes mais bem montadas. Aproveitando-se única e exclusivamente da qualidade individual de suas peças, montou um São Paulo veloz, driblador e que carrega a bola em todas as ocasiões. 

Em todas as partidas deste primeiro semestre o mote da equipe de Leão foi correr com a bola, driblar e em algum momento, se possível passar a pelota para alguém em melhores condições. Contra Oeste, Bragantino, Mogi Mirim, Ituano e derivados deu muito certo. Afinal, qual deles têm um sistema defensivo capaz de lidar com as arrancadas em alta velocidade de Lucas, Fernandinho e Cortêz? Ou então hábil o suficiente para impedir um giro de Luís Fabiano ou uma cobrança de falta na cabeça de um Rhodolfo?  Pois é... Contra Corinthians, Palmeiras e Santos não deu certo. Na única vitória em clássicos neste ano, o São Paulo  bateu o Santos por 3 a 2 no último minuto com um gol em impedimento. 

Por tudo isso o resultado de ontem estava anunciado. O Santos sabe o que fazer com a bola. O Santos joga como time. Arouca sabe a hora certa de sair em velocidade arrancando... Ganso tem o timing para girar a bola e para fazer um lançamento em profundidade. Neymar tem a noção exata de quando deve sair driblando, quando deve tocar e quando precisa mudar de lado para confundir a marcação, facilitando a entrada de um companheiro. O gol a 2 minutos de jogo ajudou, mas provavelmente o resultado seria o mesmo se a partida ficasse empatada por mais tempo.


Atrás no placar, o São Paulo literalmente correu atrás do resultado. Por motivos óbvios Jádson não rendeu nada, já que o modus operandi do tricolor não prevê passes para que um organizador gire a bola e procure alguém mais bem posicionado. Com toda a correria o time de Leão até pressionou o Santos, que, consciente do que deveria fazer, só esperou o bote adversário para sair no contra-ataque. O tricolor até chegou perto de um empate, mas seria algo fortuito, baseado exclusivamente no abafa e não num plano de jogo. 

Para Leão estaria ótimo. Aliás, a própria derrota lhe pareceu "ótima", já que ao final do jogo disse que "dentro da nossa infelicidade o time teve uma boa performance". Não, não teve. E não é pelo resultado, é pela forma. 


O semestre do São Paulo parece já traçado: jogando da mesma maneira de sempre, com muita garra e velocidade, mas sem nenhum cérebro, o tricolor vai passar pela Ponte Preta e provavelmente cair nas quartas ou semifinais da Copa do Brasil. Aí então a diretoria dará o boné a Leão e vai uma vez mais ter que reconstruir toda uma filosofia de jogo para o time, com um novo treinador e, se possível, novos jogadores. Resta saber se vão se preocupar com a forma ou com o conteúdo desse futebol. 

domingo, 29 de abril de 2012

Peixe grande no aquário pequeno

Neymar uma vez mais foi decisivo para o Santos em um jogo importante. Contra o São Paulo o atacante mostrou suas qualidades, fez três gols e ainda contribuiu para enervar os marcadores e a torcida são-paulina. Foi um bocado firulento, com quedas monumentais e encenações patéticas que em nenhum momento contribuirão com seu futebol, mas novamente mostrou que sobra no Brasil.

E é justamente por sobrar por estes lados que a joia santista deve pensar em se "mudar" pra Europa. Não é papo ou inveja dos outros torcedores, como muitas análises preguiçosas teimam em falar. É a mais pura verdade.

No Brasil Neymar é um peixe grande, enorme... Só que o aquário é pequeno. Se quiser continuar evoluindo, o santista precisa sofrer nos pés e mãos dos defensores e goleiros da Europa. Não há o que discutir. O nível do futebol europeu é muito superior ao do Brasil. Lá Neymar seria mais um... Pelo menos no começo de sua passagem... Viria a ser um diferenciado capaz de decidir os jogos? Provavelmente, mas não há como determinar.

Ficar no Brasil é bastante cômodo. Se Neymar achar que já está de bom tamanho para sua carreira pode esquecer qualquer discurso sobre futebol europeu... Agora, se quer ser o melhor do mundo ou um atleta capaz de ser o ídolo de uma seleção brasileira na Copa do Mundo, por exemplo, precisa jogar com os melhores.

E eles não estão por aqui....



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Bem mais que Altitude F.C

A Libertadores entra na última semana de fase de grupos com 12 dos 16 classificados às oitavas definidos. Das quatro vagas que restam, duas parecem ter dono: Santos e Internacional. As outras duas envolvem mais disputa e, coincidentemente, jogos nesta terça-feira.

A mais emocionante delas deve ser a luta entre Bolívar e Universidad Católica pelo segundo posto no grupo 3 - a outra é o Deportivo Quito contra o Defensor, mas equatorianos jogarão com o Chivas e uruguaios com o Vélez.

O Bolívar tem 7 pontos e joga por um empate em La Paz, já que os chilenos somam seis unidades. Embora muitos considerem a Católica favorita por sua tradição, eu discordo, não somente pelo fator altitude, mas pelo o que a equipe boliviana tem demonstrado até aqui. Foram duas vitórias sobre o Junior de Barranquilla, um empate contra a própria Católica e duas derrotas para a Unión Española.

Mais do que resultados, pude ver a maioria dos jogos do Bolívar neste começo de Libertadores e La Academia mostra um futebol bastante maduro. Armado em 4-3-3 modificável para 4-2-3-1 o time azul joga no campo do adversário, adiantando as linhas de marcação e sufocando a saída de bola. Com a redonda procura sair com jogo curto e valoriza a posse de bola. Lembra algum time? Pois é... Mas, diferentemente da moda de dizer que todos jogam ou jogavam como Barcelona, este time boliviano de fato foi influenciado pela melhor equipe do planeta.

O técnico do Bolívar é o argentino Guillermo Angel Hoyos, nada mais nada menos que ex-técnico do Barcelona. Hoyos dirigiu o time de juvenis do Barça de 2001 a 2006 e pôde aprender a filosofia de La Masia e trabalhar com diversos jogadores que hoje definem o estilo de jogo do clube catalão, entre eles Lionel Messi. Dali o treinador absorveu a dinâmica que colocou em prática quando dirigiu o grego Aris Thessaloniki e o cipriota Anorthosis Famagusta e que agora emprega no Bolívar.



Esquema tático usado pelo Bolívar na derrota por 2 a 1 para a Unión Española. Arce (ex-Corinthians) joga muito mais recuado do que Jhasmani Campos e Lizio flutua pela faixa direita para fazer tabela com El Conejo. Atrás, Flores só marca e vira o jogo e o lateral Rodríguez quase não avança.

O problema de Hoyos é a falta de qualidade de seus jogadores. Em diversos momentos desta Libertadores o Bolívar fez grandes primeiros tempos e péssimos complementos, ou então o contrário. Contra a Unión Española La Academia dominou o primeiro tempo, com posse de bola e pressão o tempo todo, mesmo atrás no placar. Já na segunda etapa o time se perdeu com os acertos dos chilenos e erros individuais de seus atletas.

As falhas de determinadas peças, aliás, são constantes, principalmente pela fixação pelo passe rasteiro e avanço das linhas de marcação. Contra a própria Unión Española o adiantamento da linha defensiva ocasionou o segundo gol dos chilenos (veja o vídeo). Vale dizer também que o time está desfalcado de seu principal jogador, o centroavante William Ferreira, artilheiro do último torneio boliviano.



Ainda sobre o duelo contra a Unión Española, depois de tomar o segundo tento o Bolívar se repaginou em um 4-2-3-1, com Lizio fazendo a função de meia-armador.



Lizio acabou dando lugar a Abdon Reyes, deixando Campos mais centralizado. A mudança melhorou o Bolívar, que diminui e que por pouco não chegou ao empate.

Jogadas ensaiadas

Além de querer ter a bola e valorizar o futebol ofensivo e de ocupação de espaços, o técnico Guillermo Hoyos também trabalha o posicionamento de seus atletas nas faltas e escanteios de seu time e dos adversários. Observem as imagens a seguir:


Na cobrança de falta no ataque, dois jogadores servem de "escudo" para dificultar ainda mais a visão do goleiro e da barreira adversária. Ambos só saem da frente do cobrador instantes antes de o tiro ser "desferido".


Já no escanteio adversário, os bolivianos colocam dois homens para "marcar" a cobrança, em vez do uso tradicional de apenas um jogador por ali. Embora a eficácia não seja tão grande assim, pelo menos em uma cobrança da Católica a "barreira" no escanteio deu certo.

Em suma

Que ninguém se engane. O Bolívar não é o Barcelona das Américas nem nada do tipo. Porém, a equipe está muito longe daquele estereótipo de "time ingênuo" ou que "joga apenas na altitude" que muitos atribuem. Este Bolívar joga com a bola e procura atuar sempre da mesma forma, esteja na altitude de La Paz ou não. Se passar pela Católica e conseguir a classificação não haverá surpresa. Por incrível que pareça, surpreendente, na verdade, seria esta Universidad Católica avançar, tanto pela bolinha que vem jogando como pela qualidade do adversário.

terça-feira, 3 de abril de 2012

As falhas do Olimpia na goleada por 6 a 0 do Lanús

Tal qual muitos dos que acompanham a Libertadores 2012, foi com muito espanto que vi a derrota do Olimpia por 6 a 0 para o Lanús na Argentina. Perder seria aceitável, mas não por tamanha diferença de gols. Vi e revi o jogo e ficou claro que o Lanús aproveitou uma falha absurda do Olimpia, que o técnico Gerardo Pelusso em nenhum momento fez questão de corrigir: o lado esquerdo da defesa paraguaia.

O lateral-esquerdo Ariosa fez uma péssima jornada, muito por causa da falta de auxílio pelo setor e um outro tanto por sua ofensividade demasiada, ignorada e provavelmente incentivada por Pelusso. Armado em um 4-4-2 com duas linhas, o Olimpia fez algumas alterações em seu formato tático para buscar um melhor jogo. Tal qual contra o Flamengo, Orteman recuava e formava um 4-1-3-2 para pegar o armador adversário. O problema é que esse movimento estreitou a linha de meio campo do Decano, que teve sempre Ariosa subindo para fazer o lado esquerdo e, por consequência, deixando o 4-2-3-1 do Lanús em vantagem. No primeiro gol isso fica claro e o erro se torna muito caro. Ariosa sobe, Orteman perde a bola e Valeri entra nas costas da defesa....


Na sequência, Regueiro passa em velocidade, recebe nas costas de Meza e cruza para Pavone fazer o 1 a 0.

O segundo gol foi fruto de desatenção da meia cancha, que deixou Camoranesi entrar na grande área sem marcação alguma. A saída de Marín, pouco depois por contusão, escancararia ainda mais a falha defensiva do Olimpia.

Hobecker, volante de origem, entrou no lugar do ex-Atlético Paranaense em tese para fazer a segunda linha de 4 pela esquerda. Na prática, porém, Hobecker afunilou o jogo, deixando Ariosa sozinho tanto no apoio, quanto na defesa.

No terceiro gol do Lanús, Ariosa novamente sobe, o Olimpia perde a bola e a defesa se complica. Regueiro, sem marcação pela direita, corta para o meio e serve Pavone, que amplia...


No frame abaixo fica clara a centralização de Hobecker e a "solidão" de Ariosa. Notem o ponta direita no cantinho da imagem e o buraco pelo centro...

Solidão esta, que se repete no movimento ofensivo... Vale lembrar que era para Hobecker integrar a segunda linha pela esquerda...




Para piorar a situação de Ariosa, no quarto gol do Lanús ele tem que se deslocar para o centro da zaga para tentar marcar o atacante adversário, já que a saída de bola pela direita foi mal sucedida. Nisso, Regueiro ficou livre para ampliar...


O quinto gol foi falha do meiocampo, que só observou Valeri matar a bola e marcar. Já o sexto....


Ariosa, pelo centro novamente, tenta fazer linha de impedimento e deixa Romero sozinho para fechar o caixão.