Após a vitória por 5 a 0 da Universidad de Chile sobre o Colo Colo, neste domingo, o técnico dos azules, Jorge Sampaolli, disse à imprensa que "mais do que o resultado, estava muito satisfeito com a forma com que sua equipe havia chegado à vitória". Vitória esta contra o maior rival do clube...
A declaração é sintomática. Sampaolli, Bielsa, Guardiola e outros grandes têm essa opinião como norte de qualquer trabalho. O tal futebol de resultado não importa. Importa vencer, ou chegar perto disso, atuando dentro de um plano de jogo em que inevitavelmente estão contemplados movimentos com a bola, marcação sob pressão na saída do adversário, e recomposição tática rápida. Quando a Universidad de Chile ganha tomando sufoco do adversário, ou fazendo gols apenas em ocasiões fortuitas, Sampaolli fica melindrado... O mesmo acontece com Bielsa e aconteceria com Guardiola caso o Barcelona tivesse sido pior que a concorrência em algum jogo recente.
É compreensível. Todo o trabalho desses treinadores, que não à toa estão entre os dez ou vinte melhores do mundo, é formatado para que a equipe chegue aos jogos desta maneira: sabendo o que faz, prevendo o que o adversário faz e jogando dentro da proposta imaginada por seus comandantes. A forma é mais importante.
É compreensível. Todo o trabalho desses treinadores, que não à toa estão entre os dez ou vinte melhores do mundo, é formatado para que a equipe chegue aos jogos desta maneira: sabendo o que faz, prevendo o que o adversário faz e jogando dentro da proposta imaginada por seus comandantes. A forma é mais importante.
Há treinadores, por outro lado, que pouco se importam com a forma. Pior... Há treinadores que se iludem com resultados e esquecem de preparar o time para jogar futebol de verdade. No mesmo dia em que a U.de Chile aplicou 5 no rival Colo Colo, o São Paulo perdeu por 3 a 1 para o rival Santos. Em que se pese as falhas individuais de Paulo Miranda, Piris e Dênis, a derrota do tricolor paulista era anunciada. Durante os quatro meses do Campeonato Paulista o técnico Emerson Leão desdenhou de qualquer plano de jogo ou preparação para os confrontos contra equipes mais bem montadas. Aproveitando-se única e exclusivamente da qualidade individual de suas peças, montou um São Paulo veloz, driblador e que carrega a bola em todas as ocasiões.
Em todas as partidas deste primeiro semestre o mote da equipe de Leão foi correr com a bola, driblar e em algum momento, se possível passar a pelota para alguém em melhores condições. Contra Oeste, Bragantino, Mogi Mirim, Ituano e derivados deu muito certo. Afinal, qual deles têm um sistema defensivo capaz de lidar com as arrancadas em alta velocidade de Lucas, Fernandinho e Cortêz? Ou então hábil o suficiente para impedir um giro de Luís Fabiano ou uma cobrança de falta na cabeça de um Rhodolfo? Pois é... Contra Corinthians, Palmeiras e Santos não deu certo. Na única vitória em clássicos neste ano, o São Paulo bateu o Santos por 3 a 2 no último minuto com um gol em impedimento.
Por tudo isso o resultado de ontem estava anunciado. O Santos sabe o que fazer com a bola. O Santos joga como time. Arouca sabe a hora certa de sair em velocidade arrancando... Ganso tem o timing para girar a bola e para fazer um lançamento em profundidade. Neymar tem a noção exata de quando deve sair driblando, quando deve tocar e quando precisa mudar de lado para confundir a marcação, facilitando a entrada de um companheiro. O gol a 2 minutos de jogo ajudou, mas provavelmente o resultado seria o mesmo se a partida ficasse empatada por mais tempo.
Atrás no placar, o São Paulo literalmente correu atrás do resultado. Por motivos óbvios Jádson não rendeu nada, já que o modus operandi do tricolor não prevê passes para que um organizador gire a bola e procure alguém mais bem posicionado. Com toda a correria o time de Leão até pressionou o Santos, que, consciente do que deveria fazer, só esperou o bote adversário para sair no contra-ataque. O tricolor até chegou perto de um empate, mas seria algo fortuito, baseado exclusivamente no abafa e não num plano de jogo.
Para Leão estaria ótimo. Aliás, a própria derrota lhe pareceu "ótima", já que ao final do jogo disse que "dentro da nossa infelicidade o time teve uma boa performance". Não, não teve. E não é pelo resultado, é pela forma.
O semestre do São Paulo parece já traçado: jogando da mesma maneira de sempre, com muita garra e velocidade, mas sem nenhum cérebro, o tricolor vai passar pela Ponte Preta e provavelmente cair nas quartas ou semifinais da Copa do Brasil. Aí então a diretoria dará o boné a Leão e vai uma vez mais ter que reconstruir toda uma filosofia de jogo para o time, com um novo treinador e, se possível, novos jogadores. Resta saber se vão se preocupar com a forma ou com o conteúdo desse futebol.
Mais perigoso que isso, só se o São Paulo ganhar aos trancos e barrancos a Copa do Brasil - lembremos que não há concorrentes assim tão fortes no páreo - e o Leão for novamente incensado ao status de treinador top.
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