segunda-feira, 12 de março de 2012

A responsabilidade de cada um

É sem nenhuma surpresa que assisto as "trombadas" de Leão com Lucas e o onipresente Wagner Ribeiro. Não há mocinhos na questão. Isso todos sabem. O que fica embaixo dos panos, porém, é a responsabilidade de cada um no futebol propriamente dito - e não apenas em relação a este desentendimento.

Assisti in loco a São Paulo e Portuguesa. A Lusa foi superior no primeiro tempo, especialmente quando buscou o jogo pelo lado esquerdo de seu ataque com Rai e Ananias. A razão era óbvia: no 4-2-3-1 do São Paulo, Lucas não "retorna" do campo de ataque nenhuma vez. Com certeza ele foi orientado a isso. Por quem? Leão, claro... O técnico deve ter dito algo genérico e "estimulante" como muitos comentaristas fazem: "Você é atacante, tem que jogar perto do gol".

O problema é que essa falta de marcação colocou Píris em uma fogueira sem tamanho. A cada lance ele tinha dois para marcar. Denílson até fazia a cobertura, mas o problema é que, quando você joga no 4-2-3-1, a movimentação de um volante abre completamente a região à frente da zaga. Foi assim que Boquita ameaçou o tricolor e seria assim que Guilherme poderia se aproveitar - não fosse sua péssima jornada.

E foi pela direita mesmo que a Lusa chegou ao gol. Piris novamente tinha dois para marcar. Ananias cruzou e Ricardo de Jesus fez o gol.

No segundo tempo Leão corrigiu a deficiência de marcação adiantando todo mundo e segurando os laterais rubro-verdes com a "ameaça" dos três atacantes tricolores. O problema é que este foi um arremedo. Um desespero de situação, que funcionou contra Rai. Será que funcionaria contra um Corinthians? Enfim... Lucas de fato esteve apagado e deve ser cobrado por seu desempenho e pela birrinha de falar "fiz o que falaram para eu fazer". Mas Leão deve ser cobrado pelo desempenho do time. Sem "deixar" Lucas voltar do meio pra trás ele quase colocou tudo a perder. Piris saiu vaiado por mais uma atuação ruim. Parte culpa dele, claro, parte da fogueira na qual foi colocado.

Mais... É responsabilidade de Leão deixar claro o que quer de seu atleta. Lucas não tem nada que ir do 8 ao 80 e tem que ter bom senso, mas suspeito que há falha de comunicação. O camisa 7 parece ter cabeça boa e não faria essas declarações do nada. E - a bem da verdade - é o próprio Leão que estimula o jogo "individualista" do qual reclama. Assistindo o time contra a Portuguesa ficou nítido. Todos os jogadores corriam com a bola e em algum momento a soltavam para algum companheiro. Não havia estratégia de movimentos, armação de um ataque. Era correria e passe. Correria e passe...

Jádson foi o mais lúcido e melhor em campo justamente por isso. Soube esperar, aguardar a movimentação. Eu até daria a mão à palmatória e falar dos méritos de Leão nesse caso, não fosse o que vi no início da partida.... Vi Jádson começar o jogo na esquerda da linha de três meias. Pois é... O destro Jádson jogando na esquerda, como "ponta" "veloz". Somente quando ele veio para o meio e Cícero para a esquerda é que o jogo começou a fluir.

Para não me alongar demais dou um exemplo simples do que é um time bem treinado. O Palmeiras de Felipão joga no mesmo 4-2-3-1, com um "ponta" mais defensivo, é verdade, mas no mesmo esquema. Neste sistema Maikon Leite tem feito ótimas partidas, com corridas na diagonal, entradas em velocidade e... marcação ao adversário, tanto pela esquerda, quanto pela direita. O Palmeiras de hoje joga passando a bola, com seus jogadores correndo. São eles que correm e não a bola....

Tem técnico que vê isso. Tem jogador que também vê... Os atletas que não entendem estão perdoados é claro. Já os técnicos que não veem...

quarta-feira, 7 de março de 2012

Verdade verdadeira

As verdades iludem. Muitas vezes são consideradas absolutas e, como qualquer coisa que o seja, cegam. Quem descobre uma verdade subitamente esquece-se de todo o resto e tem nela e apenas nela toda a sua razão. E ah, como é bom ter no que acreditar...

Escrevo isso para falar do São Paulo. O time das verdades... E que vive um momento terrível desde que assumiu essas verdades como absolutas. Depois de três campeonatos nacionais conquistados quase sem nenhuma contestação, o tricolor do Morumbi queria mais. Queria novamente a Libertadores. Sem aceitar que havia clubes mais capacitados naquele momento e que o elenco já enfrentava certa falta de ideias, bem como a decadência de algumas de suas peças, a diretoria do São Paulo assumiu a sua primeira verdade absoluta: "Muricy não serve para mata-mata".

O técnico foi demitido e dois anos depois provou a todos que a verdade era mentira. Com Ricardo Gomes o São Paulo não engrenou, mas ainda assim voltou à disputa continental. Perdeu de novo, desta vez para o Inter na semifinal. A verdade então era uma só: o time precisava de renovação.

E o São Paulo terminou 2010 com Paulo César Carpegiani no banco e Lucas e Casemiro dentro de campo, sendo protagonistas de um novo São Paulo. O time que fez um bom campeonato paulista em 2011 caiu contra o Santos de Neymar e Ganso e fez um péssimo jogo contra o Avaí pela Copa do Brasil, sendo eliminado nas quartas-de-final. Faltava então experiência e um camisa 10 para o clube - ah, a velha história do camisa 10, verdade tão salvadora. Pronto. Todos os problemas estavam resolvidos.

Rivaldo se tornou titular com Milton Cruz e depois com Adílson Batista. Reforçado de Luís Fabiano o clube teve alguns bons momentos, mas não passou disso. Adílson caiu. A verdade então se tornou outra: treinador não é problema, são os jogadores que não tem mais vontade de defender o São Paulo.

Deslumbrados com essa ideia os dirigentes trouxeram Leão. Um treinador afastado do futebol há dois anos e famoso por gritar e colocar os jogadores na linha, mas sem grandes predicados sobre sua capacidade técnica. O time chegou até apresentou certa melhora, mas não o suficiente.

Para 2012 a diretoria decidiu reformular o elenco e trouxe o tal camisa 10. Pronto. Não havia mais pontas soltas. Já se vão três meses e o São Paulo... Bem, o 1 a 0 medíocre contra o Independente do Pará, diz tudo sobre o tricolor deste ano.

Qual a verdade absoluta da vez? Ainda não decidiram...

Longe dos dogmas, porém, é possível afirmar de forma equilibrada algumas coisas: Leão deixa muito a desejar como treinador. A falta de vontade dos jogadores foi solucionada. A renovação foi bem feita e tem tudo para continuar dando frutos. A camisa 10 não é o problema do time.

Ou seja, nem tanto ao mar nem tanto à terra. É muita ingenuidade acreditar que algo tão complexo quanto futebol possa ser resolvido por meio de uma ou duas medidas. O São Paulo de Muricy pecava nos mata-matas? Sim, mas não só por Muricy. Por causa do jeito do time jogar e da falta de opções para reverter resultados adversos. Faltava renovação? Sim, faltava, mas colocar sobre os ombros de Lucas e Casemiro toda a responsabilidade não era certo. Faltava vontade aos atletas? Sim, mas o futebol não é só feito de vontade.

E de verdade e verdade o time que dominou a primeira década dos anos 2000 vai se tornando um mero coadjuvante.