sábado, 8 de setembro de 2018

O que queremos do nosso futebol?

As últimas semanas têm sido de grande reflexão para mim... 
A cada jogo que vejo no futebol brasileiro cresce um sentimento de desgosto com o que temos praticado por aqui.

Jogadores simulando lesões, atletas (e dirigentes) pedindo pênalti em qualquer bola que bate em um adversário, atacantes que desistem do lance para cair na área, rodinhas em torno de juízes - mesmo quando eles acertam - árbitros que param o jogo em qualquer contato, gandulas que somem com a bola para que não haja jogo, goleiros que caem "lesionados" para que a partida não siga... 

E pra piorar tudo uma parte da imprensa - considerável - tem avalizado o "ganhar a qualquer custo" e a cultura do "ganhou é bom, perdeu é ruim". Mais: os "profissionais" da imprensa tem disseminado desconhecimento e ódio com seus comentários engraçadinhos e fazedores de média.  Ou seja... Uma lástima! Mas destes não vou falar aqui... Quero voltar ao tema do JOGO de futebol. Afinal de contas, o que queremos do JOGO de futebol? 

Se é bem verdade que uma competição visa ao triunfo, também é verdade que o ESPORTE - e aqui falo sobre qualquer esporte - tem preceitos que vão além de ganhar. Parece loucura falar isso, mas não, o esporte não é só ganhar ou perder! Quem pratica o esporte não está lutando pela sobrevivência, ao menos não literalmente. Diferentemente de uma guerra ou de um confronto pela vida, perder não significa morrer! Quem entra numa disputa esportiva não está literalmente brigando por um prato de comida - embora muita gente adore essa metáfora. Jogos de futebol, basquete, tênis, vôlei, futebol americano e rugby, apresentações de ginástica artística, provas de natação, atletismo, arremesso de dardo, lutas de boxe, judô, etc não são situações limites que causarão danos permanentes a alguém em caso de revés.  

E isso não é algo moderno ou "nutella" como os parvos que nada sabem e tudo acham que sabem tendem a dizer... Os Jogos Olímpicos da Grécia, 700 anos do nascimento de Cristo, já previam a suspensão de todos os confrontos militares que pudessem colocar em risco a chegada dos atletas em Olímpia, onde aconteceriam  as disputas. Ou seja... O esporte valia mais do que a chance de se aproveitar de uma situação em um ambiente de guerra! 

Se admitirmos que essas premissas são verdadeiras, então temos que sim ponderar até onde é aceitável ir contra os preceitos do esporte para ganhar. 

Não se trata aqui de lançar um manifesto para que os atletas comecem a ter condutas exemplares, mas sim para abrir os olhos de quem observa o que eles fazem. Se o atleta faz isso e ganha uma vantagem esportiva, ele certamente entendeu que tinha razões para fazê-lo... Mas se nós olhamos para ele fazendo isso e elogiamos esse ato, então estamos indo contra as premissas acima listadas. Há que se reprovar quando isso é feito! 

No futebol inglês, por exemplo, um dos maiores pecados que um atleta pode fazer é simular uma falta! Por quê? Por que os ingleses gostam de futebol bem jogado?  Não, porque eles entendem que simular é enganar o público, enganar o juiz e receber uma vantagem por meios que ultrapassam a própria competência . Outro exemplo: no tênis, quando um competidor faz um ponto mediante uma bola que bateu na fita e caiu na quadra do adversário, ele se desculpa! Por quê? Por que é um tonto? Não, porque também aí o tenista entende que ganhou uma vantagem fora da sua competência. Há outros exemplos menos claros de respeito ao adversário, ao público e aos árbitros, mas não é esse objetivo desse texto. Quero falar sobre a ideia da prática esportiva.


Qual é a ideia? Em linhas gerais - e me perdoem por não usar uma bibliografia mais aprofundada para explicar essa ideia - a premissa básica de qualquer jogo é a de que competidores se enfrentarão em igualdade de condições e quem for o melhor vai vencer. Quando um competidor se utiliza de fingimento, de violência, de subterfúgios para prejudicar o adversário, então ele está ganhando uma vantagem que não estava prevista, logo o cerne do esporte se perde. 

É claro, que o dinheiro no esporte em âmbito profissional criou grandes distorções sobre a questão da igualdade de condições, mas o espírito do esporte - malemal -  ainda continua. Atletas podem ser melhores ou piores, mas continuam concordando em seguir regras e comportamentos para determinar quem vence. 

É verdade também que o futebol brasileiro tem sido um mundo à parte com os torcedores intolerantes, dirigentes que não entendem nada de esporte, árbitros e técnicos extremamente pressionados e atletas que sabem que com a própria competência não vão conseguir chegar ao êxito. De forma alguma ignoro o contexto... O que me incomoda muito é vermos tudo isso e naturalizarmos a situação. 

Será que o ganhar a qualquer custo é aceitável? Foi por isso que nos apaixonamos pelo esporte? Quando brincamos com os amigos, com nossos parentes, ou com desconhecidos, vale tudo para vencer?  Então por que no esporte de alto rendimento achamos isso normal? Afinal de contas são eles, os profissionais, os mais bem preparados para conseguir vencer por suas próprias competências.

Por que queremos isso?  Ganhar enganando o adversário, não querendo jogar, sem nos valermos da própria competência,  tem o mesmo sabor?  E pra quê? Para fazer pouco  do amigo, se divertir com os memes da internet ou descontar uma frustração que vem de outras áreas da nossa vida?  Qual o problema de perder um jogo? Qual o problema de ser rebaixado em um campeonato?  É triste, sem dúvida, que é... Mas não é uma doença terminal, a morte de um parente, a nossa própria morte... Nada que justifique fazer tudo que é aceitável e inaceitável para ganhar. É esporte, não é sobrevivência.  

Meu pai sempre me disse uma frase que segue me incomodando muito e que é extremamente verdadeira. "Hoje o que importa não é ganhar e sim derrotar".  

Pode parecer um jogo de palavras, mas não é... Vale pensar a respeito.