sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Dudzicopa 07 - Intensidade para bagunçar

O sexto dia da Copa do Mundo no Catar me deixou pensando em intensidade, velocidade e dinâmica. Lendo isso até parece que pulei daquela aula de geometria para uma de física... Mas na verdade estava pensando em como foram chatas e previsíveis as seleções de Holanda e Inglaterra nos duelos de hoje contra Equador e Estados Unidos. 

Vou começar falando dos norte-americanos porque é o que está mais fresco na minha mente. Diante dos ingleses, vimos desde o princípio uma equipe muito rápida para pressionar o English Team. Começou pela escalação de Greg Berhalter com Weah mais centralizado ao lado de Wright e o posicionamento bem mais estreito de Pulisic e Mckenie (até por ser um volante/meia central).  Essa estrutura de 4-4-2 estreito é muito similar à dos times da Red Bull, que tem na pressão ao adversário a principal característica de seu futebol. Aliás, o grande nome dos Estados Unidos para mim foi Tyler Adams que joga da mesma maneira no Leeds United do COMPANY MAN Jesse Marsch, cotado para ser o futuro treinador do Team America. 

Digo tudo isso porque toda a ideia dos Estados Unidos me parece ter partido da vontade de pressionar bem e por muito tempo um time que teve muitas facilidades contra o Irã na estreia, principalmente por abrir o campo e voltar com muita tranquilidade para a faixa central, onde encontrou Bellingham, Kane e quem quer que estivesse por ali. Hoje não. 


Weah e Wright fecharam o corredor central para os zagueiros e Rice, enquanto laterais e meias abertos foram rápidos para fechar o meio e impedir que Shaw e Trippier conseguissem qualquer coisa além de ficarem presos no canto do campo. O que por ventura passasse por ali, fosse recuo de Kane ou infiltração de Bellingham ou tentativa de Mount, era rapidamente anulado pelas pressões coordenadas de Adams e Musah (que também fez grande partida). 


Essa é a parte mais tática da coisa. A "caixa" no meio de campo para aprisionar o English Team, como mostra o vídeo abaixo do Modern Football Analyst


Mas há uma outra parte que não está nos livros e nem nesse vídeo: a intensidade para apertar, roubar e sair jogando. Esse foi o diferencial para mim no jogo dos Estados Unidos. A Inglaterra lenta, imóvel, previsível podia ter as melhores ideias (não tinha) que sem a intensidade necessária dificilmente bateria o Team America. 

E o que raios é intensidade? Virou palavra da moda na bola e nem todo mundo tem uma definição exata. Não é apenas velocidade. Nem é apenas força.. Na física intensidade é fluxo de energia por tempo. Me parece que é uma boa definição para a gente trazer para o futebol, mas aí precisaria tentar dizer o que é energia... 

Eu ouvi recentemente alguém dizer, acho que foi o Jonatan Wilson, que intensidade no futebol é "ações por unidade de tempo". Acho que cabe bem. Porque não é só correr de um lado pro outro. É fazer algo com a correria... Um desarme, um corte, uma arrancada, um pulo para tentar de cabeça, um passe rápido, um chute com força... Pensando nisso acredito que também há intensidade com a bola. E isso faltou pros ingleses... Aí vem outra questão... Faltou por quê? Por quê faltou? 

Acho que tem a ver com o adversário querendo mais e uma certa falta de ideia de como sair dessa pressão. Porém, olhando pro jogo da Holanda, às vezes parece que a excessiva rigidez posicional quebra as possibilidades de os times serem intensos. 

Claro que a Espanha está aí para nos desmentir, mas em geral times que são muito posicionais tendem a ser travados quando não tem os melhores intérpretes. Me parece o caso da Holanda. Sem pontas como nos áureos tempos do Ajax, Van Gaal outra vez optou pelos 3 zagueiros, a exemplo do que havia feito no Brasil... Acontece que agora não tem nem um Van Persie para receber na frente, nem um Robben para driblar todo mundo ou mesmo um Sneijder mambembe para armar... Agora é Frenkie De Jong aqui atrás e Gakpo na frente. De resto, muitos passes laterais e pouca "magia" para tentar algo distinto. Não tem drible, não tem mudança de ritmo, parede, tabela... Ficam trocando passes e avançando, mas na hora que precisa de um algo mais para desequilibrar, a turma sofre. Por isso só dois chutes a gol contra o Equador e só 3 certos contra Senegal. Ainda assim a Holanda está fazendo 3 gols com um xG de 0,99 segundo o Wyscout!

Contra essa previsibilidade toda o Equador veloz e intenso marcou bem e - tirando a finalização de Gakpo em erro de Caicedo - foi o senhor do jogo. Tanto sem a bola, quanto com a bola, quando foi capaz de representar bons momentos da escola sul-americana, com aproximações, paredes, gambetas e velocidade. Os Alfaro Boys estão em alta! Tomara que se classifiquem, pois precisamos de mais times intensos, imprevisíveis e que tentem nos entreter! 


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