sábado, 26 de novembro de 2022

Dudzicopa 08 - Confiança e desconfiança

O sétimo dia da Copa do Mundo me lembrou o quanto o psicológico pesa nos jogos de futebol, mesmo no mais alto nível! Não falo aqui das generalidades e simplismos como "garra", "vontade" e "amor à camisa", mas de coisas mais visíveis aos olhos. Embora não saibamos exatamente como cada jogador, treinador e equipe sentem, reagem e emocionam, é possível intuir algumas circunstâncias e ponderar o peso delas nas atuações e desempenhos.




Por exemplo... Não há como não ponderar a questão psicológica no desempenho da Argentina diante do México. Uma derrota eliminaria a Albiceleste e me pareceu nítido que os jogadores estavam com muito medo de tomar um gol e ter que buscar o resultado. Digo isso porque para mim foi flagrante a desconexão nos passes, os erros técnicos e as chegadas duras em todos os lances. Logo essa Argentina tão técnica e que conversa com jogadores próximos?  Para mim, daqui de casa pela televisão, parecia que cada atleta tinha uma tonelada nas costas. No segundo tempo, no entanto, eles foram se enchendo de coragem e Messi foi aparecendo cada vez mais no jogo. O lance do gol tem muito dele, mas um bocado do jovem Enzo Fernández... Corajoso, ele dá o passe para Messi e reconhece o espaço que precisa ser ocupado para que o craque do time tenha uma chance mais à frente. Deixo aqui esse vídeo do Maurício Saldaña 


Para mim pareceu muito nítida a maior fluidez com que o jogo argentino aconteceu após esse gol. O próprio Messi, leio aqui, disse o seguinte após a partida: 

"Cuando nos calmamos, empezamos a jugar a la pelota y volvimos a ser lo que somos". El fútbol es contexto. No siempre se puede jugar bien. Ojalá que esto sea un desbloqueo emocional, el refuerzo de la confianza y que Argentina juegue como sabe.


Não foi algo brilhante, mas certamente muito mais leve e dinâmico. Como explicar senão pelo psicológico? E como explicar que um psicológico de 36 jogos de invencibilidade seja detonado dessa forma por uma derrota para a Arábia Saudita? Aí deixo para outros experts de sofá! 

Falando na Arábia Saudita... Como estavam confiantes os jogadores de Hervé Renard diante da Polônia! Cada passe tinha uma intenção e ela era/para frente! Cada pressão no adversário mostrava extrema convicção no modelo de jogo. Pudera! Depois de ganhar da Argentina quem é que não estaria confiante?! Faltou um pouquinho mais de capricho técnico para ganhar. A Polônia teve porque tem jogadores melhores e eles apareceram pela primeira vez em mais de 4 anos. Sim, porque na Rússia não estiveram também... Zielinski, Lewandowski e principalmente Szczesny garantiram uma injusta vitória polonesa. A ver como fica a confiança de Lewandowski depois do primeiro gol em Copas e os ânimos dos sauditas depois de verem tantas boas jogadas e ímpeto se transformarem em nada... 

É um caso diferente dos australianos, que de ímpeto renovado dominaram o primeiro tempo contra a Tunísia por meio de intensidade, combatividade e velocidade. Além disso ainda  marcaram um bonito gol com Duke, que mesmo sendo um grandalhão australiano de pouca expressão no jogo, conseguiu um toco y me voy lindíssimo. Daí pra frente os Socceroos precisavam mostrar confiança para não repetir os erros vividos contra a França, quando saíram na frente e tomaram a virada em um segundo tempo muito tímido. Não dá pra falar em grande desempenho australiano nos 45 finais contra a Tunísia, mas a combatividade, coragem, entrega e confiança para se jogar na frente da bola e marcar duro perto do próprio gol estiveram lá.

Sobre confiança, mas principalmente medo, penso também no jogo Dinamarca e França. Desde o princípio ficou muito estabelecido que Mbappé e Rasmus Kristensen seriam os protagonistas do dia. Sim, porque Mbappé não marcava Kristensen e Kristensen sempre estava muito longe de Mbappé quando a França roubava a bola. Em algum momento foi doloroso ver o lateral do Leeds United completamente livre esperando a bola e tanto companheiros quanto adversários mostrando a total falta de confiança nele. Hojbjerg e turma não passavam para ele e Rabiot e Theo Hernández queriam mais é que ele recebesse a bola para que pudessem desarmá-lo e lançar Mbappé para cima de Andersen. 

O futebol é psicológico desse jeito também... Você confia mais que você vai desequilibrar com espaço ou teme que o adversário nas suas costas desequilibre? A resposta nós tivemos. Kristensen não foi o único culpado, mas claramente aproveitou menos do que poderia o espaço que teve, além de ter sido punido tanto quanto se esperaria por um Mbappé confiante e ciente do risco que causa ao adversário o tempo todo. 


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