domingo, 27 de novembro de 2022

Dudzicopa 09 - O futebol dos camisas 9

O oitavo dia da Copa do Mundo me lembrou o papel dos centroavantes no futebol de alto nível.

Espanha e Alemanha fizeram um grande jogo de futebol. Um duelo digno de Copa do Mundo. Mas também um duelo de duas campeãs mundiais que foram a campo sem centroavantes! Ou pelo menos sem centroavantes típicos. Asensio repetiu o papel de 9 de mobilidade da estreia pela Fúria, enquanto Thomas Müller foi o nove de falsa mobilidade pelo lado alemão. 

Os espanhóis, fiéis à sua ideia de mover o adversário por meio da posse de bola, foram mais bem sucedidos no primeiro tempo. Faltava, no entanto, aproveitar a profundidade criada por esses passes e movimentações dos demais jogadores. Olmo estava conseguindo, mas não o bastante em zonas perigosas, enquanto Asensio e Ferrán Torres estavam deixando Luis Enrique na mão. Aos 9 do segundo tempo Morata entrou para jogar de centroavante. Aos 15 a bola de Busquets chegou a Olmo, que rapidamente serviu Alba, que cruzou na linha da pequena área para Morata. A flecha na hora certa, o alvo atingido! Nem foi tanto a capacidade de finalizar e sim de ter o timing certo da corrida. Isso também importa muito em um centroavante.

Do outro lado Flick insistiu mais um pouco com Müller. Não sei se a ideia era ele recuar para servir Musiala e Gnabry em profundidade quando a Alemanha tivesse transições ou se ele queria que Müller sustentasse e escorasse a bola na frente. Talvez fosse tão somente o Raumdeuter de outrora o procurado por Flick, mas esse acho que já ficou há muito no passado... Quando entrou Fülkrig as coisas começaram a acontecer. 




O grandalhão começou a dar trabalho para Busquets, Laporte e Rodri por meio de suas disputas aéreas e na área. Isso, me parece, empurrou mais para trás a Espanha, que já estava mais cautelosa com as arrancadas de Sané. Aos 35 Fülkrig recebeu e chutou na mão de Busquets no que aqui no Brasil seria pênalti e aos 37 Fülkrig correu na hora certa para receber de Musiala e estufar as redes. 

Fico pensando aqui em Klinsmann, Bierhoff, Klose, Gómez e até em Jancker e em como Fülkrig tende a ajudar mais esse time do que os técnicos Havertz, Müller e Moukouko nesse momento.

Vi algo parecido com esses grandões no En-Nesyri do Marrocos. Confesso que conheço menos do que gostaria sobre esse jogador, mas me chamou a atenção as vezes em que ele recebeu de costas para o gol e deu sequência nas jogadas. Às vezes é disso que um time precisa: gira a bola, sustenta, passa, espera a equipe avançar... 

Bom.. Há muito tempo eu tenho um fraco por centroavantões. Eu adoro Romelu Lukaku porque ele é muito técnico, muito rápido e muito alto e forte. O problema é que sem ele em forma a Bélgica recorre a Batshuayi. E olha que eu até gosto do Batsman... Desde a época em que ele era reserva do Gignac no Marseille do Bielsa! A questão é que ele em si está muito longe de Romelu... A frustração de De Bruyne com ele chama a atenção. Assim como chama a atenção que Batshuayi até tem a ruptura em profundidade, mas não o timing, nem a técnica apurada e nem o feeling para o mais alto nível. Não sei se a Bélgica iria melhor com outro ali, mas sei que um time tão moroso e distante precisaria de um centroavante bom para dar dinâmica ao jogo. 

Me parece que foi um pouco isso que Takuma Asano deu ao Japão nos dois jogos em que ele entrou. Nem tanto presença de área, pois sequer ele é nove, mas sim a bagunça na área. Vem pra cá, faz a tabela, recebe e chuta. Kramaric também fez isso pela Croácia, mas aí se mexendo bastante e tendo espaço, pois os canadenses jogam e deixam jogar. 


Dinâmica, timing, parede, profundidade, empurrar o adversário para trás, pivô... Uma série de contribuições que os centroavantes podem dar para além dos gols. 



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