quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Dudzicopa 05 - Dimensões do campo e falsas simetrias

 O quarto dia da Copa do Mundo do Catar me fez pensar em comprimento, largura, profundidade, simetrias e assimetrias! Não, não confundi os jogos da tevê com a reprise do Telecurso 2000! O fato é que o jogo de futebol está intrinsicamente ligado à noção de espaço e em como ocupá-lo.

Vimos no Croácia e Marrocos que Modric, Kovacic e Brozovic são ótimos, mas não aqui na defesa e sim lá no ataque! O Marrocos condicionou o local do campo em que os três recebiam a bola e os croatas sofreram. 


Em Alemanha e Japão observamos vários conceitos interessantes relativos ao espaço. Primeiro a Alemanha usando uma formação assimétrica com a bola para levar vantagem. No papel era um 4-2-3-1, mas na prática o lateral-direito Süle (15) ficava na base da jogada junto aos zagueiros Rudiger (2) e Schlotterbeck (23), enquanto o lateral-esquerdo Raum (3) avançava e se unia aos atacantes Musiala (14), que pendia da esquerda para o meio (onde se sente muito mais à vontade), Muller (13), Gnabry (10) e Havertz (7). Atrás deles Gundogan (21) e Kimmich (6) para armar. Bem assimétrico como mostra o mapa de calor do Sofascore:


A assimetria de uma formação em momento ofensivo não é questão estética e sim algo motivado para gerar desequilíbrios. Como o Japão iniciou em 4-2-3-1 com a primeira linha mais "estreita", protegendo os limites da própria área, e o ponta por aquele lado, Junja Ito, ainda tinha que dar conta do lateral-esquerdo/zagueiro Schlotterbeck, o lateral/ala Raum tinha espaço no lado do campo. Foi com ele que a Alemanha atacou primordialmente e foi ele que sofreu o pênalti. 

Voltando às noções de geometria, dá pra dizer que o Japão não conseguia com quatro jogadores dar conta de todo a largura do campo.  Por isso a alteração na metade do jogo foi crucial para os japoneses. Com uma linha de 5 e não mais com quatro, os Samurais conseguiram ocupar melhor toda a extensão horizontal do gramado. Mas isso os fez perder a extensão vertical... Mais gente dos lados, menos gente por dentro e a Alemanha chegou muito!

Como falhou nas finalizações - Gonda foi excelente -, Die Mannschaft deu a chance de o Japão virar o jogo, em um momento no qual a linha de cinco asiática tinha dois atacantes, um lateral e dois zagueiros. Aliás... O segundo gol japonês é uma prova de dificuldade alemã para proteger o comprimento/profundidade do campo/o costado da zaga, que foi exposto pelo lançamento rápido de Itakura para Asano. 

Bom, mas se a Alemanha foi uma assimetria e o Japão se encontrou na largura do campo, o que dizer da Espanha contra a Costa Rica? 

Irritantemente simétrico é o que me vem à mente! 


Esse mapa de passes do site The Athletic mostra ainda melhor a sinergia, simetria e distâncias quase iguais de todos os jogadores


É a síntese do jogo de posição espanhol. Contra uma Costa Rica que "tapou", mas não marcou, os comandados de Luis Enrique deitaram e rolaram nos intervalos entre jogadores e nas zonas esvaziadas do campo pela movimentação dos oitos, pontas e nove de mobilidade. Aqui, para além das noções de simétrico e assimétrico, vale pensar como o princípio de "movemos a bola para mover o adversário" é belíssimo quando funciona dessa forma. Na prática a Espanha é que decidiu quanto media o campo em cada momento. Evidentemente que faltou muita coisa para os Ticos e uma marcação individual talvez tivesse se dado melhor contra os espanhóis. Aí a referência não seria mais o espaço criado pela Espanha e sim a capacidade/tenacidade/agressividade individual. 

Para fechar... Canadá e Bélgica decidiram esvaziar o meio do campo, mostrando que, mesmo podendo, alguns times não querem compactação. É uma assimetria na altura do campo por assim dizer... Bloco da defesa e bloco do ataque!

Com isso os canadenses foram superiores, condicionaram a Bélgica e ainda se aproveitaram da velocidade, inversão e atrevimento da turma da frente. Faltou gol! Gol que a Bélgica conseguiu de forma similar a Takuma Asano contra a Alemanha: lançamento em profundidade, mexendo com a altura/profundidade do adversário. Talvez o goleiro Borjan pudesse ter encurtado mais para Batshuayi.

Talvez eu deva dormir um pouco...

Amanhã tem mais! 





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