terça-feira, 29 de novembro de 2022

Dudzicopa 11 - Qual o lugar da cultura futebolística de um país na Copa?

O décimo dia de Copa do Mundo me fez pensar em culturas futebolísticas e como elas se manifestam ou deixam de se manifestar no Mundial. De antemão já digo que não vou conseguir abarcar a complexidade do tema (tenho impressão que toda a hora eu falo isso, mas c'est la vie). No entanto, quero oferecer tostões de reflexão. 

Não estou falando de "japoneses rápidos e organizados", "de africanos irresponsáveis", da "frieza nórdica" ou de outros estereótipos que têm um ou os dois pés no preconceito. Estou falando de modelo de jogo, características das equipes e que tipo de jogador é eleito ou deixa de ser para disputar o Mundial. 

Esse tema está sempre presente para mim quando se discute a seleção do Tite. O time é excelente, o coletivo é esplêndido e os jogadores extremamente técnicos, mas não dá para deixar de notar que a predileção pelo ataque posicional é uma ruptura com o Joga Bonito da história da seleção brasileira. Jogadores distantes, que esperam a bola no pé... Pontas abertos, segurando a linha lateral... Poucas aproximações e muitas inversões... Funciona, mas não tem nada a ver com os títulos e 82. Deveria ter? Não sei. Talvez... É a cultura de um país refletida num jogo. Ao mesmo tempo tem gente que vai dizer que o mais importante é vencer e tudo bem também. E outros que vão apontar que no mundo globalizado todo mundo joga como quiser ou até igual a todo mundo. Todos pontos válidos. Mas quero discutir um pouco isso falando sobre os times que jogaram nesta terça-feira. 

A Holanda que se classifica em primeiro no grupo A me parece que tem pouco da escola holandesa. Sim, alguns aspectos mais posicionais estão por lá, mas os encaixes de marcação, a linha de cinco muito rígida, o recuo excessivo, a ausência de pontas e a característica dos atletas são muito diferentes da Laranja Mecânica ou mesmo de times mais recentes, como os de 88, 94 e 98. Deveria ser diferente? Não sei. Eu gostaria que fosse... Poderia ser até um Ajax 95, dirigido pelo próprio Van Gaal... 


Do outro lado a seleção do Catar teve que criar um jeito de jogar pra não fazer tão feio na Copa. Até acho que o vexame não foi tão grande, haja vista de onde partiu e onde está a seleção nacional, forjada pela Academia Aspire e seus muito espanhóis. Talvez daqui uns 16 anos a imprensa do Catar (se tiver liberdade para isso) pergunte se os cataris deveriam romper com a tradição ou abraçar o estilo de jogo consagrado por Félix Sánchez... 

No caso de Senegal há um retorno com Aliou Cissé como comandante. Depois de anos com europeus tentando a rigidez, as seleções africanas foram ao Catar com comandantes do próprio continente e, me parece, um certo entendimento da necessidade de haver casamento entre ordem e liberdade, haja visto todo o talento que têm. A escola senegalesa é essa? 

E a equatoriana, qual é? Acho que é a sul-americana, do drible, engano e encanto, mas a quantidade de jogadores formados no Independiente del Valle e as raízes espanholas do modelo de jogo do clube fazem a gente pensar para onde vai e qual o modelo a ser seguido doravante. 

E as seleções do grupo B? País de Gales parece meio imune à globalização no que se refere à seleção. Acho que tem muito a ver com os atletas que atuam na Championship e em times menores da Premier League. Nenhum problema quanto a isso. Inclusive acho que se fosse melhor no kick and rush 4-4-2 e colocasse dois grandões na frente, talvez tivesse mais chances. 

E isso me leva aos ingleses. Há tanto talento local nesse momento que a escola inglesa está sendo transformada.  Já não é mais o caso de 4-4-2 com double six (Gerrard e Lampard, Scholes e Butt, Barnes, Ince e outros), um centroavante e um segundo atacante. Agora é a Inglaterra do controle, dos pontas agudos e dos zagueiros que jogam. Está errado ir por aí? Deveriam manter o estilo inglês? Acho que não, desde que eles sejam capazes ou acreditem serem capazes de um dia superar espanhóis e brasileiros nesse tipo de jogo que querem. Ou talvez pudessem pensar em um jogo mais vertical à la Premier League...

Do Irã me falta conhecimento para falar, mas me parece que a escola Queiroz pode ser o futuro da equipe nacional. O português foi treinador em 3 das 6 Copas disputadas pelo Team Meli e me parece que com mais tempo neste ciclo poderia ter levado o time ao mata-mata.

E pra fechar, falo dos Estados Unidos. Qual é a escola de futebol dos Estados Unidos? E qual era? Era a cópia inglesa? Uma coisa à mexicana e Caribe? Eu não sei. Mas já falei aqui que talvez o futuro seja o modelo Red Bull, personificado em Tyler Adams, que faz grande Copa do Mundo. O jovem de 23 anos passou por New York Red Bulls, Red Bull Leipzig e Leeds United, onde é treinado por Jesse Marsch, que treinou times da empresa e que tem tudo para assumir o Team America para 2026. Jogadores rápidos, pressionando o espaço e imprimindo velocidade. Acho que se adapta bem a esse grupo. Talvez se adapte bem à paixão americana pelos outros esportes. Um futebol NBA, de transições rápidas e DE-FEN-CE, DE-FEN-CE! Será?

Já estou falando muita bobagem. Até amanhã! 

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