sábado, 17 de dezembro de 2022

Dudzicopa 29 - Por mais jogos que "não valham tanto'

O vigésimo oitavo dia de Copa do Mundo me fez em pensar em competitividade e atratividade dos jogos de futebol. O tema me veio à mente pela disputa de terceiro lugar entre Croácia e Marrocos. O começo da partida foi muito bom, mas aos poucos o jogo foi caindo de qualidade pelos muitos erros e trocas de atletas dos dois times. Ainda assim um aspecto curioso é o de que normalmente essas disputas reservam bons jogos para assistirmos, já que "não vale tanto" e "os times estão mais relaxados". As afirmações são quase um senso comum e por isso queria a provocação: 

Se fossem menos competitivos e se valessem menos, os jogos de futebol seriam melhores?




Claro que não é simples assim, mas busco a reflexão. Porque se nós admitimos que alguns jogos são feios, brigados e pouco atrativos porque "não há espaço para erros" e porque "são muito disputados", então seria salutar buscar um jogo onde é permitido se equivocar, não é mesmo? 

Porque se há permissão ao erro, há espaço para o risco. 
E se há o risco, há atratividade e interesse. 
Sim, porque ninguém passaria duas horas na frente da televisão para ver dois times brigando para que nada acontecesse. 

Não é o caso de levar ao extremo de assistir o Fifa Legends Cup com ex-jogadores e suas fortunas se divertindo, mas também não podemos achar que "vale muito" e "não pode errar" sejam parâmetros para definir jogos de alto nível. Afinal, há muitos jogos de várzea que valem muito e no qual não se pode e nem se deve errar pelo bem de todos os envolvidos! Nem por isso eles são bons. 

No fundo me parece que a questão toda está inserida na base do JOGO de futebol. De qualquer jogo na verdade. 

Se joga para quê e pelo quê?
Não é só para ganhar. Ganhar é o objetivo, mas o JOGO não é só o objetivo. 
Entre amadores, é possível dizer que o resultado é basicamente irrelevante e que o legal é bater uma bolinha, tentar um drible, fazer uma defesaça ou um golaço com os amigos e conhecidos. 

Mas entre profissionais também é possível ter essa margem (o golaço, a defesaça, o drible) na medida em que estão reunidos os melhores dos melhores. Não era de se esperar que eles fossem capazes de nos demonstrar habilidades incríveis em vez de medos terríveis? 

Numa das minhas muitas andanças pela internet e por vários textos e ideias a respeito do futebol topei com essa citação aqui. Dizia que era do professor Jan Tamboer, cuja qualificação de acordo com a internet é filósofo do Movimento Humano e do Esporte. A citação é:


"Jogar é a busca pelo incomum, pelo surpreendente, 
pelo tentar tudo que é possível"


É isso que nós queremos ao assistir aos melhores jogadores em campo. Não é a busca pelo resultado, mas sim a busca pelo encanto aliado à competitividade. 

Como resgatamos isso? 
Para mim é diminuindo o peso do erro. Naturalizando o erro e o fracasso. 

Mas há espaço para isso nessa nossa lógica capitalista que mercantiliza tudo e que trata cada ser humano como uma peça a ser descartada, substituída ou defeituosa por não cumprir as expectativas financeiras, morais, profissionais e de outros? 

Acho que só indo para o amadorismo novamente. 

Acho que não vai dar... 

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