sábado, 3 de dezembro de 2022

Dudzicopa 15 - Vibração e frieza

O décimo quarto dia de Copa do Mundo me fez refletir sobre a frieza e a vibração dentro de campo. Sim, porque vi Holanda e Argentina fazendo coisas diferentes hoje nas oitavas de final. A Holanda me passou frieza. A Argentina vibração.

É verdade que posso estar contaminado pelos estereótipos de latinidade e europeização, mas gostaria de explicar o que eu vi durante as classificações das duas às oitavas de final e aí vocês julgam. 

HOLANDA

Contra os Estados Unidos, a Holanda aguentou oito minutos dos americanos com a bola e aí iniciou uma troca de 20 passes, indo para trás, frente e lado até Dumfries cruzar e Depay fazer. Na sequência a Holanda viu os americanos tentarem furar a defesa laranja e depois pressionarem sem fazer o gol, até que em três toques Dumfries cruzou para Blind fazer 2 a 0. 

No segundo tempo o jogo estava completamente controlado pelos holandeses, até que Depay errou feio ao recuar uma bola. O escanteio decorrente resultou no gol de Wright e os americanos se animaram. Em meio ao turbilhão, Van Dijk e amigos pareciam saber exatamente o que fazer. Fiquei com a sensação que eles simplesmente decidiram aumentar de novo o ritmo e que o terceiro gol chegou naturalmente (e com contribuição norte-americana, claro). Na transmissão da CBN até brinquei com o Vinícius Moura que a Holanda era uma equipe clínica, mas também cínica. Achei uma boa porque a Holanda do futebol chato e do pragmatismo, hoje jogou bem e foi fria para resolver a partida no fim. 

ARGENTINA

Contra a Austrália, a Argentina tinha a bola e muitas dificuldades para entrar na defesa adversária. Por volta dos 33 minutos, no entanto, Messi se desentendeu com Behich aqui no lado direito do ataque argentino. Os dois se empurraram e encararam. A partir desse lance daqui do meu sofá, a milhares e milhares de quilômetros, Messi me pareceu mais vibrante na partida. Houve uma falta lateral, Messi pegou o rebote e matou a bola com categoria, passou para Mac Allister, que colocou para Otamendi, que ao não conseguir dominar, ajeitou para Messi enfiar o pé na bola no espaço que tinha. 

No segundo tempo a bobagem do goleiro Ryan e os esforços de Álvarez e De Paul resultaram na ampliação da vantagem. Ao mesmo tempo, porém, o clima de partida finalizada tirou os argentinos do jogo, enquanto o gol contra de Enzo Fernández após batida de Goodwin trouxe ares sauditas para a partida. Diferentemente da Holanda, a Argentina não parecia saber o que fazer, mas na reta final, depois de Lautaro errar mais um gol e os australianos se animarem, eu vi o seguinte: 


Messi simplesmente pegou a bola e falou que a partida era dele. Com ela nos pés, sem muito plano, sem os colegas entenderem muito bem, ele carregou, driblou, tabelou, chutou, errou... Messi, sempre acusado de ser frio, sentiu o que o jogo pedia. Junto com ele veio De Paul, na vibração do companheiro e tentando ajudá-lo a ficar com a bola. E no fim a energia deve ter ido ainda para Dibu Martínez, que salvou a Argentina cara a cara no chute do promissor Kuol. 

Na vibração da torcida, de Messi e de todos em campo, no final, sem muito plano e com um inaceitável descontrole, a Argentina agradável, dos 36 jogos de invencibilidade antes da Arábia, do futebol de tabelas e dribles, mas também das panes absurdas resolveu a partida. 

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Pelo menos foi isso que eu vi. 

Mas de repente eu viajei e foi só mais um dia de times fracos parando em times mais fortes...

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