terça-feira, 4 de julho de 2017

O M1T0 do desmanche

A saída de Rogério Ceni do comando técnico do São Paulo vem acompanhada de uma série de avaliações sobre o trabalho do iniciante treinador. Aqui mesmo no blog debatemos os seis primeiros meses do comandante, enquanto outras duas boas análises podem ser encontradas nos blogs dos companheiros Renato Rodrigues e Caio Gondo

As avaliações obviamente devem se estender para o além-campo, mas desde que sejam feitas com critério. Que o São Paulo está há muitos anos sem saber o que quer é inegável. Que as constantes trocas sem critério para os treinadores impactam o clube não há dúvida. Que as dívidas contraídas por gestões anteriores atrapalharam é óbvio. Que a impaciência da torcida e perseguição a jogadores prejudicam o trabalho é nítido, assim como o constante entra e sai de atletas é muito nocivo.


O que não é possível falar, no entanto, é que o São Paulo sofreu um desmanche no meio de trabalho de Ceni.

No afã de achar culpados ou até para eximir de responsabilidade quem tanto fez pelo clube, muitos começaram a reproduzir a história de que o tricolor se desmanchou no meio da temporada e que por isso Ceni deu errado. Para tanto, enchem a boca para falar que mais de 20 jogadores saíram esse ano. Verdade, mas é preciso dizer também quem, como, quando e por que!  

No total, de dezembro de 2016 até julho de 2017, são na verdade 27 saídas do time de cima. Vamos a elas:

Goleiro


Léo: emprestado ao Paraná no início do ano pois Rogério Ceni pediu a contratação de Sidão

Zagueiros

Lyanco: Não participou da pré-temporada do clube e fez apenas um jogo com Ceni. Foi vendido ao Torino por 20 milhões de reais, em uma época na qual o time já tinha seis zagueiros

Lucas Kal: Emprestado ao Paraná, pois na época o São Paulo tinha zagueiros demais no elenco

Breno: Emprestado ao Vasco da Gama com anuência da comissão técnica, já que não vinha ganhando chances entre os titulares

Maicon: Vendido ao Galatasaray da Turquia por 25,7 milhões de reais. Era titular do time, mas vivia sua pior fase com a camisa tricolor

Lucão:  Afastado do elenco por decisão da diretoria após atacar a torcida. Era titular no esquema com três zagueiros e nas ausências de Rodrigo Caio


Laterais-direitos

Auro: emprestado ao América-MG no início do ano, pois Ceni sequer o levou para a Flórida

Foguete: emprestado ao Vila Nova depois de ficar fora da lista de Ceni para o Paulistão


Laterais-esquerdos


Carlinhos: emprestado ao Internacional no início do ano, pois Ceni não o considerava parte de seus planos

Mena: o clube não quis comprar os direitos econômicos do então titular da lateral-esquerda em 2016

Reinaldo: emprestado para a Chapecoense pois não fazia parte dos planos da comissão técnica

Matheus Reis: emprestado para o Bahia pois não fazia parte dos planos. A decisão veio antes mesmo da chegada de Ceni, segundo o Globoesporte.com

Volantes

Hudson: Emprestado ao Cruzeiro para "respirar novos ares" em negociação que envolveu a chegada de Neílton

Wellington: Demorou a ter chances no time que disputou o Paulistão e foi emprestado para o Vasco da Gama depois de se ver sem perspectivas de utilização no Brasileiro

João Schmidt: Deixou o São Paulo no dia 30 de junho em saída que estava anunciada desde antes da chegada de Ceni. Era o reserva imediato da posição de primeiro volante quando saiu.

Thiago Mendes:  Vendido ao Lille da França por 34 milhões de reais. Em coletiva, disse que queria deixar o clube. Era titular absoluto e importante peça do time de Ceni 


Meias


Kelvin: Retornou ao Porto depois de a diretoria não querer renovar o contrato de empréstimo dele com o São Paulo

Michel Bastos: Deixou o São Paulo em comum acordo com a diretoria. Antes, treinava afastado dos demais por decisão de Ricardo Gomes. 

Jean Carlos:  Fora dos planos de Rogério, teve seu empréstimo rescindido antes do final. Sequer fez a pré-temporada

Daniel: Sem espaço no elenco, foi emprestado para o Coritiba. Sequer viajou para os EUA

David Neres:  Vendido ao Ajax por 40 milhões de reais. Sequer fez a pré-temporada com Ceni, pois estava com a seleção sub-20. 

Atacantes

Róbson:  Não teve nenhuma chance em 2017 e foi emprestado para o Paraná 

Neílton:  Contratado por empréstimo a pedido de Rogério Ceni, foi dispensado depois de ser pouco utilizado pelo treinador. 

Ytalo: Devolvido ao Audax depois de passar lesionado a maior parte de seu empréstimo ao São Paulo 

Pedro Bortoluzzo: Emprestado ao Paraná por decisão da comissão técnica, pois o time já contava com Chávez e Gilberto. 

Chávez: Virou banco de Gilberto, que já é banco, e não teve o empréstimo com o Boca Juniors renovado. Era uma saída anunciada

Luiz Araújo: Oscilava entre o banco e a titularidade e foi vendido para o Lille da França por 38 milhões de reais. Quando saiu brigava por posição com Morato, que se lesionou, e com Marcinho 

* Ainda pode-se incluir Arthur, Banguelê, Maidana e Matheus Queiroz, mas nenhum deles faia parte dos planos do ex-treinador 

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Vejam que o número engana. Dos 27, podemos dizer que seis saíram à revelia do treinador, que provavelmente queria, mas que nada podia fazer para mantê-los: Lyanco, David Neres, Luiz Araújo, Maicon, Schmidt e Thiago Mendes. 

Destes, David Neres e Lyanco fizeram um jogo (somados) com o treinador, que provavelmente não montou o planejamento para o Brasileiro contando com eles. Já Schmidt era banco absoluto quando o contrato venceu e Luiz Araújo oscilava entre titularidade e banco com desempenhos sofríveis na reta final do Paulistão e com partidas discretas no Brasileiro, exceção feita ao clássico contra o Palmeiras.  

Maicon e Thiago Mendes eram os únicos titulares absolutos com o treinador, mas o primeiro vinha pedindo uma reserva há tempos, com falhas bisonhas contra Cruzeiro e Corinthians, por exemplo.  

Ou seja... Desmanche?  Não consigo ver. Consigo ver um clube que teve saídas por opção do treinador e que vendeu três jogadores no meio do ano; um deles porque foi contratado a peso de ouro por um preço que não valia e outro porque pediu para sair. 

Nesses dias também se tornou usual falar que muitas chegadas é algo ruim. Sem dúvida que é. Ainda mais aquelas do meio do ano... Mas seria pior se saíssem jogadores e ninguém chegasse não? Aliás, vamos lembrar quais foram as chegadas de 2017? 

Goleiro



Sidão: Pedido de Rogério Ceni, pois o arqueiro sabia atuar com os pés. Tal característica parecia importante lá atrás, mas sequer foi utilizada com constância de abril para cá. Renan, que era a terceira opção, foi a melhor opção


Lateral-esquerdo


Edimar: Trazido para ser banco de Junior Tavares depois da aposta por Buffarini na esquerda se mostrar equivocada. Sequer estreou 


Zagueiro


Arboleda: Veio às pressas quando o "planejamento" da diretoria fez 7 zagueiros virarem 3. Sequer estreou

Volante

Jucilei: Grande acerto das contratações de 2017 até agora. Titular absoluto e com bons desempenhos 

Cícero: Pedido expresso do técnico e amigo Rogério Ceni. Foi tido como importante pela qualidade técnica e gols marcados, mas até julho só foi às redes quatro vezes; três no mesmo jogo. 

Petros: Acabou de chegar e atuou apenas uma vez com Rogério Ceni. 


Meias


Thomaz: Veio às pressas para substituir Cueva. Foi observado pela comissão técnica e departamento de análise de desempenho e até agora tem nível razoável no ano

Jonathan Gomez: Veio na "reformulação" de meio de ano da diretoria. Sequer atuou com Ceni

Atacantes

Wellington Nem: Cotado para ser o principal reforço do ano, luta para ser titular. Jogou pouco com Ceni

Maicosuel: Negócio de ocasião feito pela diretoria.  Tal qual Petros, chegou num dia e estreou no outro, mas não conseguiu jogar mais desde então

Morato:  Um jogo bom e uma lesão feia abreviaram a sequência de jogos do reforço pinçado por Rogério e pelo departamento de análise de desempenho

Marcinho:  Tem sido uma grata surpresa, jogando pela ala direita ou como ponta direita. Grande acerto de observação do treinador e departamento de scouting

Denílson: Negócio de ocasião nos mesmos moldes de Marcinho e Morato. Ainda briga pela titularidade

Lucas Pratto: O maior investimento do ano começou arrebentando, mas tem oscilado nas últimas rodadas. Parece ser um grande acerto, mesmo com o time em má fase 

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Notem que nenhuma dessas contratações veio à revelia do treinador pelo que sabemos... Sendo assim, é difícil falar que chegadas tenham atrapalhado Rogério Ceni na sua trajetória no clube. 

Pra finalizar... As 27 saídas parecem muita coisa?  E são... Mas sabem quantos atletas deixaram o Corinthians?  20 (contando com a turma da base que subiu, mas quase não jogou e com Cristian).  Do Palmeiras?  17. 

Os números explicam e ajudam, mas não explicam tudo. Então devagar com o "desmanche inflacionado".

PS: Se eu esqueci de algum nome, por favor me digam

PS2: De maneira alguma este é um post elogioso à diretoria do São Paulo. O planejamento durante o ano foi ruim (vide a questão dos zagueiros, dos laterais e a atabalhoada renovação de Lugano)  e a falta de convicção com Ceni e processo de demissão foram dignos de pena 


PS3: O elenco do São Paulo é bom!  É o sexto ou sétimo melhor do país. 

4 comentários:

  1. A culpa disso tudo é da diretoria que desde 2009 só fez caca . carla Poppelauer

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  2. A culpa disso tudo é da diretoria que desde 2009 só fez caca . carla Poppelauer

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  3. Só esse texto já é uma ótima analise da temporada 2017 do São Paulo. O Ex-técnico cometeu erros de avaliação terríveis que grande parte da torcida e da Imprensa se negaram a enxergar.
    O dep. de futebol do clube é pessimamente administrado, isso é inegável mas esse elenco nas mãos de um bom técnico exemplo, Ricardo Gomes, poderia entregar mais.

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  4. Ah, apesar de tudo ainda deixaria o Ceni até o final do primeiro turno. Mas demissão em si é indiscutível o time estava desnorteado.

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