sexta-feira, 24 de junho de 2016

Osorio quis ser Bielsa, mas devia ter tentado ser Osorio...

Revi hoje o México 0x7 Chile e me permito uma análise aqui dos motivos que levaram a essa "paliza" dos chilenos contra os até então invictos comandados de Juan Carlos Osorio.

Os desenhos táticos foram semelhantes: ambos partindo de um 4-3-3 com desdobramentos em ações ofensivas. A qualidade chilena, no entanto, sobretudo no meio, era muito maior. O trio de La Roja foi Vidal, Aránguiz e Diaz contra os mexicanos Dueñas, Guardado e Herrera. Já no ataque se Puch não é aquela maravilha, Vargas e Sánchez são capazes de mudar uma partida (e fizeram isso), enquanto Chicharito, em jornada apagada, foi flanqueado por Lozano e Corona, que ainda não tem o mesmo nível dos adversários.

Mais do que qualidade, no entanto, a afeição aos sistemas de jogo propostos pelos dois treinadores me parece o diferencial. Além de terem um entrosamento muito maior, os chilenos estão tremendamente acostumados a jogar como jogaram e aqui cabe notar: Pizzi abriu mão de algumas convicções iniciais e apostou definitivamente no Chile sufocante e veloz que vem sendo construído desde o período Marcelo Bielsa. 

Do outro lado, Osorio fez o mesmo... Sim, quis ser Chile sem ter jogadores acostumados e entrosados para isso.

Explico: na véspera do jogo o comandante do selecionado mexicano fez elogios a Bielsa dizendo que ele era um dos melhores treinadores do mundo e que era uma grande influência no trabalho dele. Adicionou ainda que esse era um jogo para ver em que nível o México estava e se era capaz de se impor contra um adversário de tamanha qualidade.

O problema é que o "impor" se tornou uma briga de igual pra igual, com ampla vitória de quem faz isso há mais tempo, com melhores jogadores e maior entrosamento.

Desde o minuto inicial o México pressionou o Chile em todo o campo, buscando retomar a bola e atacar rapidamente. A equipe até conseguiu fazer isso, mas como os chilenos também pressionavam, os mexicanos foram levados a abusar dos lançamentos pra tentar pegar o adversário desprevenido. Não foram raras as vezes em que Guardado, Layun, Dueñas e Herrera dominaram a bola para imediatamente lançar sem sucesso Chicharito, Corona e Lozano...

Bola afastada pela zaga mexicana cai nos pés de Guardado. São sete mexicanos na defesa contra seis atacantes do Chile, o que significa dizer que há três mexicanos contra quatro no ataque da equipe da Concacaf. Guardado mesmo assim opta pelo lançamento para Corona (número 6) 


Ainda em inferioridade númerica, Corona tenta algo, mas está grudado na lateral e nada consegue fazer.

Já do outro lado, Vidal, Aránguiz e Diaz tinham movimentos coordenados e um Alexis Sánchez inteligentíssimo, capaz de dominar, driblar e abrir espaços. Somem a isso o apoio constante e sem oposição de Beausejour e Fuenzalida e temos a receita para o fracasso rotundo.

O 1 a 0 foi o primeiro golpe, mas acordou os mexicanos, que passaram a trocar mais passes antes de arriscar tanto. Era um México mais parecido com o que enfrentou e venceu o Uruguai: achando espaços com calma, antes de sair em desabalada carreira... Era um México mais Guardiola e menos Bielsa.

Mas como assim? Sim. Eu estive na apresentação de Osorio no São Paulo Futebol Clube e lá perguntei para ele qual era a ideia de jogo e sobre como funcionava a pressão alta na visão dele. Ele disse que o melhor jeito de construir o jogo e pressionar o adversário era trocar ao menos 15 passes antes de atacar de forma contundente (algo que Guardiola já fez muito), assim, se a bola fosse perdida todos estariam em posição e próximos dela pra pressionar e impedir o contragolpe. E se pararmos para observar o São Paulo fez muito isso na curta passagem do colombiano por aqui.... O time trocava passes com todos os atletas até estar bem posicionado e então atacava, tentando roubar a bola tão logo ela fosse perdida...

O "México Guardiola"  foi superior ao Chile até os 40 do primeiro tempo, cedendo pouco depois o 2 a 0.

Na segunda etapa Osorio trocou peças e o México iniciou com mais paciência. A pressão bielsística/sampaolística chilena, no entanto, levou Herrera a errar a saída de bola, dando o 3 a 0 para os chilenos.

Daí pra frente o México voltou a ser o da correria e pressão descoordenada, se tornando presa fácil dos ditadores de ritmo e técnicos Vidal e Aránguiz. Somem a isso o descontrole emocional dos mexicanos e temos um 7 a 0 histórico.


Lance do quarto gol chileno: o México tinha a bola, mas perde e marca de forma totalmente descoordenada. Olhem a distância do meio pra defesa. 


Zagueiro sai no bote e Vargas tem caminho livre

Na coletiva pós-jogo Osorio assumiu que errou no planejamento e escolha dos jogadores e afirmou que "em sistemas espelhados a qualidade individual aparece" e "que nesse sentido os mexicanos não estiveram à altura. Dribladores não ganharam, duelos foram perdidos a todo o tempo."

Osorio quis ser Bielsa, mas devia ter tentado ser Osorio...


Um comentário:

  1. Osorio deveria ser Osorio? Osorio não gosta de espelhar? Não gosta de atacar? Virtude ou defeito? Talvez defeito a partir do momento que ignora a limitação do material que tem nas mãos. Não a toa sofreu goleadas em clássicos enquanto esteve no Brasil. O México ciente de suas limitações sempre soube se fechar bem. Talvez tentar se impor em algumas circunstâncias seja TEIMOSIA.

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