terça-feira, 3 de março de 2015

Jogadores não-modernos


Um dos aspectos mais propalados nas recentes discussões do futebol brasileiro é o chamado "jogador moderno". Nesta definição se encaixam os atletas supostamente capazes de desempenhar trabalhos defensivos e ofensivos com correção. 

Há muito isso deixou de ser moderno e passou a ser obrigatório, mas o nome permanece. 

De toda a maneira, elejo aqui três volantes do histórico recente do futebol brasileiro que carregam um pouco mais esta pecha de atleta moderno: 

Maicon, Cícero e Wesley.


Os três são exaltados pela grande capacidade técnica e valências táticas que os permitem em tese fazer o serviço sujo e armar a equipe ao mesmo tempo. Até por isso, há um grande debate sobre a posição dos três. Maicon é meia ou volante?  Wesley é meia ou volante?  Cícero é volante, meia ou segundo atacante? 

O fato é que as atuações dos três demonstram que contar com um "volante moderno" deste tipo nem sempre é uma boa coisa para o clube. 

Maicon, por exemplo nunca se firmou como titular do São Paulo. O motivo? Apesar de saber dar combate, o time sempre ficava exposto com ele como segundo volante. A tão qualificada saída de jogo - sua melhor qualidade - era um trunfo pro tricolor, mas os espaços dados poucas vezes compensavam o sacrifício dos demais. Maicon, no entanto, também não poderia ser meia-armador centralizado. Não é de sua característica receber a bola de costas ou se movimentar o suficiente para achar os espaços no último terço do campo. Já já voltamos ao Maicon...

Pensem no Wesley. O problema é quase o mesmo. O agora são-paulino sempre diz que prefere jogar de segundo volante e chegou até mesmo a dar indiretas criticando Gilson Kleina por escalá-lo na função de Valdívia. A grande passagem de Wesley pelo Atlético-PR, antes de voltar ao Santos, foi como meia ofensivo, quase um segundo atacante, enquanto os bons momentos de Palmeiras vieram com ele aberto no lado direito em uma linha de três no 4-2-3-1. As características de Wesley, no entanto, impedem que ele seja agudo por ali, valência muitas vezes desejada para aquele tipo de jogador. Como segundo volante, de novo, o time fica exposto. Já já voltamos ao Wesley... 

Por fim, falemos de Cícero. No Fluminense vice-campeão da Libertadores de 2008 ele tinha o apoio de Ygor e Arouca na marcação e de Conca e Thiago Neves na armação. Ou seja, tinha liberdade para marcar pouco e fazer o que mais gosta: entrar na área em progressão, fazer gols de cabeça, finalizar de fora da área. Como segundo volante ele nunca funcionou no São Paulo, tanto é que foi preterido pela dupla Wellington e Denílson, que acertou o tricolor sob o comando de Ney Franco. De novo: os espaços deixados inviabilizaram os grandes desempenhos por ali, enquanto ele sozinho na armação passou por grandes sofrimentos posto que Cícero faz bom trabalho chegando na área, mas não achando espaços nas costas dos volantes para armar o ataque. 

Ou seja, qual a melhor posição para os três? Volante ou armador?  Um híbrido entre os dois! O famoso "terceiro homem" de meio de campo. Foi assim que Maicon surgiu no Figueirense quando divida um setor com os volantes Ygor e Coutinho e o meia Fernandes. Wesley jogou nominalmente poucas vezes nesta função, mas quando era o meia direito aberto no Palmeiras recuava muito e na prática virava um terceiro homem de meio ao lado de Márcio Araújo e Vilson ou Eguren. Já Cícero teve algumas chances com Adílson Batista no São Paulo por ali, mas muito pouco para tirarmos conclusões de fato. 

A questão é... Esse jogador tão moderno assim precisa de um esquema específico para encaixar seu melhor futebol. Isso não parece tão sofisticado assim. Pra jogar com três volantes e manter um meia criativo, o time tem que se adequar a um sistema tático de difícil absorção, o 4-3-1-2... No Brasil é um pouco mais complicado porque os laterais são ofensivos e contam com as coberturas dos volantes para sobreviverem. A ideia não seria essa para aproveitar da melhor forma o meio povoado.

Não são verdades absolutas, apenas constatações... Mas me parece que não vale tão a pena assim contar com estes atletas modernos que precisam de um esquema só pra eles. 

Um comentário:

  1. Boleiro. Wesley é boleiro/peladeiro. Habilidoso, não ao ponto de ser craque, mas sem consciência ou disciplina tática. Sempre mata os contra-ataques no 3º drible que tenta aplicar no adversário. Não existe "esquema só" para ele. Não é um jogador decisivo, um Neymar para ganhar tamanho privilégio. Não é mais fácil o clube se desfazer do jogador. Pena pelo prejuízo, mas obrigado, spfc!

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