sexta-feira, 16 de maio de 2014

Personagens antigos e ideias novas levam o Bolívar às semifinais

Tem um sentimento de Déjà vu a classificação histórica e inédita do Bolívar às semifinais da Libertadores neste formato. Uma sensação de 20 anos atrás… Um sotaque norte-americano! Não é coincidência. 

Em 1994 a seleção boliviana conseguiu um de seus maiores feitos ao se classificar para a Copa do Mundo nos Estados Unidos. La Verde já havia disputado os Mundiais de 1930 e 1950, mas em ambos foi convidada pela organização. Por isso, ir à Copa “dentro de campo” foi um marco, ainda mais porque naquele torneio a Bolívia conseguiu fazer seu primeiro ponto na história da competição ao empatar por 0 a 0 com a Coreia do Sul . A “conquista” veio  nos pés de Etcheverry, Cristaldo e companhia, mas com o planejamento e execução de três figuras que estão no Bolívar 2014: Xabier Azkargorta, Guido Loayza e Marcelo Claure. 

Guido Loayza é o presidente do clube de La Paz e era o presidente da Federação Boliviana de Futebol em 1994. Ao lado dele, estava Marcelo Claure, que trabalhava com o setor de marketing da seleção. Hoje, Claure, um bem sucedido empresário boliviano com carreira nos Estados Unidos, é o presidente da Bolívar Administración, Inversiones y Servicios Asociados, a empresa que efetivamente administra o clube. Claure e Loayza estão juntos desde 2008 à frente de La Academia, e de lá pra cá têm feito diversas tentativas para modernizar o clube e sair do lugar comum. Isso pode ser observado nos investimentos feitos na estrutura e no perfil dos treinadores que têm sido contratados. 

Em 2009 o clube apostou no argentino naturalizado boliviano Gustavo Quinteros, que levou o time ao título do Apertura e pouco depois chegou à seleção nacional. Em 2011 o também argentino Ángel Guillermo Hoyos foi contratado após uma passagem exitosa pelo Barcelona B, onde trabalhou com Messi. Com Hoyos, La Academia venceu um torneio e chegou às oitavas de final da Libertadores demonstrando um futebol envolvente e com diversas jogadas ensaiadas fora do comum, como uma barreira própria nas cobranças de falta a favor, por exemplo. No biênio 2012-13 o espanhol Miguel Ángel Portugal trouxe mais do futebol europeu para a realidade boliviana e também convenceu atletas da própria Espanha a atuar no país. Foram os casos do meia Capdevilla e do atacante Callejón (irmão do jogador do Napoli), ambos formados na base do Real Madrid. 


Em 2014 a aposta inicial em Maurício Soria não dava resultados e o dono do Bolívar, Marcelo Claure, decidiu reunir de novo a equipe que 20 anos antes havia colocado a seleção boliviana na Copa do Mundo. Em poucos dias ele convenceu o treinador espanhol Xabier Azkargorta a abandonar a seleção da Bolívia para treinar o clube. Vale lembrar que o técnico ficou de 2005 a 2012 sem treinar time algum (apenas desempenhando funções administrativas, entre elas a de embaixador do Real Madrid na América do Sul), e que a chegada à seleção e depois ao Bolívar foi bastante contestada. 


Azkargorta, no entanto, sabia muito bem o que estava fazendo e embora em La Verde não tenha conseguido grandes feitos, foi capaz de mudar completamente o Bolívar dentro da Libertadores. Com ele o time adquiriu uma consistência invejável. Já são nove jogos sem derrota, seja jogando na altitude de La Paz ou ao nível do mar. As atuações não são fantásticas, o futebol não é vistoso, mas o técnico conseguiu formar um time compacto, aplicado e que vibra muito nas partidas, algo que só a figura de um dos treinadores mais exitosos da história do futebol seria capaz de aportar. 

A chegada às semifinais da Copa Libertadores 2014 foi comemorada como um título, mas o clube obviamente quer ir além. E como tem sido praxe desde 2008 a administração pensa em soluções pouco comuns. Lembram daquela ideia de Beckham jogar com a camisa do Bolívar? Ela está de volta. Claure já disse que existe a possibilidade do Spice Boy atuar depois da Copa do Mundo com a camisa de La Academia. Por quê? Porque o empresário boliviano é amigo pessoal do inglês e tem ajudado o ex-jogador com consultoria para ele montar um clube e se tornar dirigente. 


Quem sabe? Fato é que o Bolívar já mostrou que é muito, mas muito mais que altitude. É um dos times mais organizados da Copa Libertadores da América. Um time que sabe como jogar. Que não aposta apenas em bola aérea e desespero…. Que tenta achar soluções para problemas que os demais enfrentam com ideias antigas. 

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