segunda-feira, 16 de abril de 2012

Bem mais que Altitude F.C

A Libertadores entra na última semana de fase de grupos com 12 dos 16 classificados às oitavas definidos. Das quatro vagas que restam, duas parecem ter dono: Santos e Internacional. As outras duas envolvem mais disputa e, coincidentemente, jogos nesta terça-feira.

A mais emocionante delas deve ser a luta entre Bolívar e Universidad Católica pelo segundo posto no grupo 3 - a outra é o Deportivo Quito contra o Defensor, mas equatorianos jogarão com o Chivas e uruguaios com o Vélez.

O Bolívar tem 7 pontos e joga por um empate em La Paz, já que os chilenos somam seis unidades. Embora muitos considerem a Católica favorita por sua tradição, eu discordo, não somente pelo fator altitude, mas pelo o que a equipe boliviana tem demonstrado até aqui. Foram duas vitórias sobre o Junior de Barranquilla, um empate contra a própria Católica e duas derrotas para a Unión Española.

Mais do que resultados, pude ver a maioria dos jogos do Bolívar neste começo de Libertadores e La Academia mostra um futebol bastante maduro. Armado em 4-3-3 modificável para 4-2-3-1 o time azul joga no campo do adversário, adiantando as linhas de marcação e sufocando a saída de bola. Com a redonda procura sair com jogo curto e valoriza a posse de bola. Lembra algum time? Pois é... Mas, diferentemente da moda de dizer que todos jogam ou jogavam como Barcelona, este time boliviano de fato foi influenciado pela melhor equipe do planeta.

O técnico do Bolívar é o argentino Guillermo Angel Hoyos, nada mais nada menos que ex-técnico do Barcelona. Hoyos dirigiu o time de juvenis do Barça de 2001 a 2006 e pôde aprender a filosofia de La Masia e trabalhar com diversos jogadores que hoje definem o estilo de jogo do clube catalão, entre eles Lionel Messi. Dali o treinador absorveu a dinâmica que colocou em prática quando dirigiu o grego Aris Thessaloniki e o cipriota Anorthosis Famagusta e que agora emprega no Bolívar.



Esquema tático usado pelo Bolívar na derrota por 2 a 1 para a Unión Española. Arce (ex-Corinthians) joga muito mais recuado do que Jhasmani Campos e Lizio flutua pela faixa direita para fazer tabela com El Conejo. Atrás, Flores só marca e vira o jogo e o lateral Rodríguez quase não avança.

O problema de Hoyos é a falta de qualidade de seus jogadores. Em diversos momentos desta Libertadores o Bolívar fez grandes primeiros tempos e péssimos complementos, ou então o contrário. Contra a Unión Española La Academia dominou o primeiro tempo, com posse de bola e pressão o tempo todo, mesmo atrás no placar. Já na segunda etapa o time se perdeu com os acertos dos chilenos e erros individuais de seus atletas.

As falhas de determinadas peças, aliás, são constantes, principalmente pela fixação pelo passe rasteiro e avanço das linhas de marcação. Contra a própria Unión Española o adiantamento da linha defensiva ocasionou o segundo gol dos chilenos (veja o vídeo). Vale dizer também que o time está desfalcado de seu principal jogador, o centroavante William Ferreira, artilheiro do último torneio boliviano.



Ainda sobre o duelo contra a Unión Española, depois de tomar o segundo tento o Bolívar se repaginou em um 4-2-3-1, com Lizio fazendo a função de meia-armador.



Lizio acabou dando lugar a Abdon Reyes, deixando Campos mais centralizado. A mudança melhorou o Bolívar, que diminui e que por pouco não chegou ao empate.

Jogadas ensaiadas

Além de querer ter a bola e valorizar o futebol ofensivo e de ocupação de espaços, o técnico Guillermo Hoyos também trabalha o posicionamento de seus atletas nas faltas e escanteios de seu time e dos adversários. Observem as imagens a seguir:


Na cobrança de falta no ataque, dois jogadores servem de "escudo" para dificultar ainda mais a visão do goleiro e da barreira adversária. Ambos só saem da frente do cobrador instantes antes de o tiro ser "desferido".


Já no escanteio adversário, os bolivianos colocam dois homens para "marcar" a cobrança, em vez do uso tradicional de apenas um jogador por ali. Embora a eficácia não seja tão grande assim, pelo menos em uma cobrança da Católica a "barreira" no escanteio deu certo.

Em suma

Que ninguém se engane. O Bolívar não é o Barcelona das Américas nem nada do tipo. Porém, a equipe está muito longe daquele estereótipo de "time ingênuo" ou que "joga apenas na altitude" que muitos atribuem. Este Bolívar joga com a bola e procura atuar sempre da mesma forma, esteja na altitude de La Paz ou não. Se passar pela Católica e conseguir a classificação não haverá surpresa. Por incrível que pareça, surpreendente, na verdade, seria esta Universidad Católica avançar, tanto pela bolinha que vem jogando como pela qualidade do adversário.

Um comentário:

  1. Nao conhecia o Bolivar com tanta profundidade, para ser (pela sua analise) uma grata surpresa, sobretudo pelo tecnico. Torcemos entao para o time passar e assim termos mais oportunidades de analisar o esquema tatico que parece ser bem interessante!
    Parabens pela analise!
    Abs, Leite

    ResponderExcluir