quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Crise política

— (...) e para falar sobre esse tema, é com grande prazer que recebemos o analista Ivan Theodoro para o nosso bate-papo de hoje. Ivan, muito obrigado pela sua presença!

— Eu é que agradeço o convite! 

— Bom, pra gente começar... Qual análise o senhor faz sobre esse momento conturbado pelo qual estamos passando?

— Certo. É difícil abarcar todas as questões aqui, mas vamos tentar fazer um exercício nesse sentido. Primeiramente é importante que a gente lembre o contexto no qual tudo isso ocorreu. Se olharmos um pouco pra trás, vamos lembrar que vivíamos uma crise sem precedentes, da qual era difícil sair sem as respostas certas no momento certo. O que quem estava no poder tentou fazer foi não deixar a peteca cair. Até para manter a confiança e seguir em frente era necessário fingir que estava tudo bem, de forma que todo tipo de iniciativa era sempre imaginando o melhor cenário possível e nunca uma permanência do estado anterior. Alguns meses depois, no entanto, as pessoas foram percebendo que o buraco era mais embaixo e que palavras e otimismo não seriam suficientes para mudar a situação.

— Sem dúvida. O senhor diria então que ali começou a crise institucional?

— Sim. O problema é que as soluções arranjadas não iam na direção de solucionar os problemas. Aconteceu meio que um salve-se quem puder e a demagogia e o populismo tomaram conta. Isso no discurso, porque na prática já se imaginava e articulava outra coisa.

— É o que as pessoas estão chamando de golpe?

— Exato. Eu tenho uma resistência grande sobre essa nomenclatura, pois ela foi meio que banalizada nos últimos anos, mas de toda a forma podemos sim entender essa manobra como um golpe político. O que os partidários de lá vão falar, no entanto, é o seguinte: é golpe falar o que as pessoas querem ouvir? Dar o que elas querem? Enfim... Não vou entrar nesse mérito aqui, mas é importante que quem nos acompanha lembre desse contexto porque foi ele que nos levou às soluções drásticas e até certo ponto atabalhoadas que se seguiram. As pessoas queriam uma satisfação. Nos dois sentidos do termo!

— Sim. Mas as soluções mágicas aos poucos foram se mostrando falhas, não Ivan?

— Concordo. O início foi muito bom, mas aos poucos os problemas foram voltando e outros foram aparecendo, mostrando que as questões estruturais ainda estavam longe de serem resolvidas.

— O que nos leva a esse novo cenário de descrença e desaprovação não é mesmo?

— Sim, com um agravante: com militâncias muito agressivas dos dois lados. Parece que reconhecer erros é uma fraqueza hoje! A gente sabe que o caminho não é nem tanto pra um lado e nem para o outro, mas as pessoas estão querendo apenas provar seus pontos de vista.

— O senhor pode nos dar um exemplo disso?

— Eu vejo por exemplo o seguinte: de um lado as pessoas falam que foi um erro a troca no poder. Que deveriam ter dado mais tempo e que uma hora voltaríamos ao caminho. Pode ser que sim. Mas essa é uma conclusão que não tem muita lógica. Nada apontava nesse sentido. A distância de tempo faz com que a gente esqueça como estavam as coisas antes, o que gera essa falsa percepção de que estavam boas, mas não estavam e, infelizmente, as decisões tomadas não eram as mais corretas. Quem defende a administração anterior não vai de forma alguma concordar com o que eu estou falando e para isso vai usar o atual momento para provar o ponto de que não era necessária uma troca. Repito: essa é uma correlação falsa.

— Mas não estamos muito melhor agora não é mesmo?

— De fato. Ainda é muita discreta a melhora, se é que há, e essa crítica deve ser feita sim! O problema, a meu ver, é que há uma herança pesada para a gestão atual. Não a estou elogiando, mas não podemos negar a existência dessa questão. Os processos demandam tempo. A nova administração assumiu sabendo desses problemas e já deveria ter bolado soluções sim, mas há dificultadores que vêm de mais tempo. Da mesma maneira, os defensores dessa gestão não vão reconhecer esses erros e usarão os erros dos antecessores para justificar tudo.

— Sim.

— O que acho importante destacar é que esse debate de antes contra agora faz com que nos esqueçamos de olhar para a situação atual. Quase não se fala sobre o momento que estamos vivendo e das soluções que podemos empregar para melhorar o panorama! Ficamos presos no "esse é melhor", "esse é pior" e não seguimos em frente. O de antes não vai voltar! O de agora ainda pode corrigir, mas nenhum deles é mais importante do que o futuro da instituição.

— Sem dúvida! Essa grande instituição que é o Brasil e que inf...

— BRASIL?! NÃO! Eu tava falando do São Paulo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário