quarta-feira, 7 de março de 2012

Verdade verdadeira

As verdades iludem. Muitas vezes são consideradas absolutas e, como qualquer coisa que o seja, cegam. Quem descobre uma verdade subitamente esquece-se de todo o resto e tem nela e apenas nela toda a sua razão. E ah, como é bom ter no que acreditar...

Escrevo isso para falar do São Paulo. O time das verdades... E que vive um momento terrível desde que assumiu essas verdades como absolutas. Depois de três campeonatos nacionais conquistados quase sem nenhuma contestação, o tricolor do Morumbi queria mais. Queria novamente a Libertadores. Sem aceitar que havia clubes mais capacitados naquele momento e que o elenco já enfrentava certa falta de ideias, bem como a decadência de algumas de suas peças, a diretoria do São Paulo assumiu a sua primeira verdade absoluta: "Muricy não serve para mata-mata".

O técnico foi demitido e dois anos depois provou a todos que a verdade era mentira. Com Ricardo Gomes o São Paulo não engrenou, mas ainda assim voltou à disputa continental. Perdeu de novo, desta vez para o Inter na semifinal. A verdade então era uma só: o time precisava de renovação.

E o São Paulo terminou 2010 com Paulo César Carpegiani no banco e Lucas e Casemiro dentro de campo, sendo protagonistas de um novo São Paulo. O time que fez um bom campeonato paulista em 2011 caiu contra o Santos de Neymar e Ganso e fez um péssimo jogo contra o Avaí pela Copa do Brasil, sendo eliminado nas quartas-de-final. Faltava então experiência e um camisa 10 para o clube - ah, a velha história do camisa 10, verdade tão salvadora. Pronto. Todos os problemas estavam resolvidos.

Rivaldo se tornou titular com Milton Cruz e depois com Adílson Batista. Reforçado de Luís Fabiano o clube teve alguns bons momentos, mas não passou disso. Adílson caiu. A verdade então se tornou outra: treinador não é problema, são os jogadores que não tem mais vontade de defender o São Paulo.

Deslumbrados com essa ideia os dirigentes trouxeram Leão. Um treinador afastado do futebol há dois anos e famoso por gritar e colocar os jogadores na linha, mas sem grandes predicados sobre sua capacidade técnica. O time chegou até apresentou certa melhora, mas não o suficiente.

Para 2012 a diretoria decidiu reformular o elenco e trouxe o tal camisa 10. Pronto. Não havia mais pontas soltas. Já se vão três meses e o São Paulo... Bem, o 1 a 0 medíocre contra o Independente do Pará, diz tudo sobre o tricolor deste ano.

Qual a verdade absoluta da vez? Ainda não decidiram...

Longe dos dogmas, porém, é possível afirmar de forma equilibrada algumas coisas: Leão deixa muito a desejar como treinador. A falta de vontade dos jogadores foi solucionada. A renovação foi bem feita e tem tudo para continuar dando frutos. A camisa 10 não é o problema do time.

Ou seja, nem tanto ao mar nem tanto à terra. É muita ingenuidade acreditar que algo tão complexo quanto futebol possa ser resolvido por meio de uma ou duas medidas. O São Paulo de Muricy pecava nos mata-matas? Sim, mas não só por Muricy. Por causa do jeito do time jogar e da falta de opções para reverter resultados adversos. Faltava renovação? Sim, faltava, mas colocar sobre os ombros de Lucas e Casemiro toda a responsabilidade não era certo. Faltava vontade aos atletas? Sim, mas o futebol não é só feito de vontade.

E de verdade e verdade o time que dominou a primeira década dos anos 2000 vai se tornando um mero coadjuvante.

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