domingo, 22 de agosto de 2010

Na teoria a prática é outra

*Texto publicado originalmente no Olheiros.net

Depois que Ricardo Teixeira e grande parte dos brasileiros descobriram que o único jogador sub-24 da seleção que foi à Copa do Mundo 2010 era Ramires, um novo mantra começou a ser entoado. O comprometimento, tão em voga de 2006 pra cá, saiu de cena e deu lugar ao cântico da renovação. Renovação do futebol, renovação do comando técnico, renovação dos nomes... Renovar é preciso, viver não é preciso!

Saiu Dunga, veio Mano Menezes e a renovação ganhou forma e texto logo na apresentação do treinador. Além de renovada seleção, renovados conceitos! Os Jogos Olimpícos, que normalmente são lembrados apenas seis meses antes do torneio, entraram na pauta e Mano afirmou: a Olimpíada é parte fundamental de seu plano à frente da seleção e por isso ele comandará o time em Londres. Isso, em caso de classificação.

Indagado pelos jornalistas do programa "Bem Amigos", do Sportv, Mano "explicou" que o Brasil ainda não estava na Olimpíada, pois precisava conseguir a vaga no Sul-Americano Sub-20 de 2011. Perguntado sobre quem dirigiria essa seleção sub-20, o comandante limitou-se a dizer que não seria ele e não citou nome algum. Mas, quem seria/será então? Nem mesmo a CBF sabe.

Isso porque, desde que Rogério Lourenço se afastou das funções para dirigir o time principal do Flamengo, oficialmente a seleção brasileira de juniores não tem técnico. No final de maio deste ano, após a saída de Lourenço, uma manchete no site da CBF informava que a seleção sub-19 havia sido convocada para um período de testes na Granja Comary. Somente lendo a notícia era possível saber que ela fôra convocada por Luiz Verdini.

Até o mês de abril, Luiz Antônio Verdini nunca havia sido técnico de futebol. Formado em educação física, se especializou como preparador e teve seu primeiro trabalho em 1992, no time sub-20 do América-RJ. Daí em diante, Verdini passou pela seleção brasileira sub-17, seleção sub-18 dos Emirados Árabes, futsal do Vasco e sub-20 do Bangu. Em 2006 foi contratado pelo time de juniores do Botafogo e em 2007 chegou à seleção brasileira sub-18, de onde saltou para a sub-20. Durante toda a era Rogério Lourenço, foi ele o preparador físico do Brasil.

Em abril, com a necessidade de disputar dois torneios simultaneamente, um sub-19 e um sub-18, a CBF decidiu dar poderes de técnico a Verdini e não a Diogo Linhares, assistente de Lourenço. Quando Rogério saiu, Verdini ficou com o comando do sub-20, mas sem anúncio oficial nenhum da entidade máxima do futebol brasileiro. Coincidência ou não, desde que ele se tornou o técnico, as notícias no site da CBF não trazem títulos na ordem direta, como "Luiz Verdini convoca a seleção". Todos seguem a linha do "seleção convocada", sem menção ao comandante.

Ou seja, na nova era da seleção brasileira, de renovação das peças, integração das seleções de base com a principal e estímulo aos mais jovens, a equipe nacional sub-20 tem um treinador "não-oficial" vivendo sua primeira experiência como técnico. Não fosse o bastante, no dia 11 de agosto o Avaí anunciou a contratação de Verdini para o seu time de juniores, o que faz com que ele não tenha mais dedicação exclusiva à seleção.

Em sua apresentação oficial, com direito a coletiva, Luiz disse que aceitou o cargo porque o projeto do Avaí era ambicioso e bem estruturado, segundo ele "um salto à frente dos outros clubes". Já sobre a conciliação de dois cargos dessa importância, Verdini falou que era até melhor que o treinador da seleção de base treinasse também um clube, já que isto facilitaria a observação de atletas por regiões do país. "É claro que minha estada aqui minimiza a distância (da seleção). Não só pro Avaí, mas pra todo o estado e para toda a região. Onde o Avaí estiver jogando e eu estiver observando, todos os jogadores vão ter chance de estar na minha seleção", afirmou.

Indagado sobre uma eventual participação na convocação do goleiro Renan, do próprio Avaí, para a seleção de Mano Menezes, Verdini disse que sua chegada no clube catarinense não tinha nada a ver com o chamado. No entanto, sobre Alek Sander, arqueiro /91 convocado para a seleção sub-20 em julho, Luiz deixou escapar que foi um mérito do site do Avaí. "Foi fruto do trabalho, podemos assim dizer, do marketing do Avaí. Observei na relação dos jogadores na internet que o clube tinha um goleiro com idade pro sub-20 e com altura boa. O vi jogar e então o convoquei", disse.

Qualidade dos convocados e da comissão técnica à parte, as afirmações de Verdini não parecem condizentes com o ambicioso projeto da CBF. A não ser, é claro, que ele possua uma logística tão rasa a ponto de ignorar um trabalho aprofundado de olheiros espalhados pelo país, comunicação da confederação com os clubes, liderança e qualidade técnica do treinador, para privilegiar o "olhar" próximo de quem disputa jogos em Santa Catarina e que descobre - pela altura - atletas escondidos em websites.

Novas caras, projeto Olímpico, ganhar a Copa de 2014... Tudo muito bonito, tudo muito certinho, mas isso é consequência, não é causa. A causa é a estrutura das seleções de base brasileiras, é a integração entre elas, é a preparação para a etapa seguinte... Infelizmente, por ora, a seleção júnior patina dentro e, principalmente, fora de campo. É bom lembrar que sem uma boa campanha no Sul-Americano em maio do ano que vem, não há Jogos Olímpicos, não há teste para Mano e não há a tão alardeada renovação.

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