O pensamento ressurgiu numa brincadeira inocente.
Durante uma das edições do Globo Esportivo debatíamos fora do ar a real qualidade de jogadores como Rodrigão, centroavante do Santos. Meu ponto era o de que o bom era o que fazia o esperado... O contraponto era falar sobre qualidade técnica.
A ideia que me centrei foi a seguinte: no futebol atual só há espaço para dois especialistas em campo: o goleiro e o centroavante fazedor de gols.
Há controvérsias,é claro, e nem todo centroavante é um especialista, mas se existem posições na qual ainda há espaço para especialistas são essas duas. Não é mais possível trabalhar em alto nível com laterais que só apoiam ou que só defendem. Ou então com volantes que só marcam e meias e ponteiros que só atacam... O que nos leva a pensar sobre os zagueiros.... Aí veio minha dúvida.
Em tese eles também podem ser especialistas, mas cada vez mais essa noção também vai se dissolvendo e a Eurocopa é um excelente exemplo: os zagueiros foram armadores!
Parece um caminho óbvio... Durante os últimos anos o futebol mundial de alto nível se concentrou na busca por espaços. Ter a posse de bola em última análise não é ficar com ela apenas, mas sim estreitar e ampliar o campo a fim de achar espaços. Defender sem a posse de bola também não é simplesmente manter a bola longe, mas sim controlar o espaço delimitado ao adversário para trabalhar e ameaçar a meta que se protege...
Por isso ressurgiu o falso 9, por exemplo! Para buscar o espaço dentro do campo, Messi e outros saíram da referência e buscaram o vazio entre zagueiros e volantes. Agora nem mais para esses há tanto espaço, de maneira que começar o jogo lá de trás parece ser um caminho!
Na Euro 2016 três times utilizaram zagueiros armadores com mais afeição: Itália, País de Gales e Alemanha, sobretudo contra os próprios italianos.
Aquela partida é um pouco atípica pelo fato de Alemanha e França se utilizarem de sistemas espelhados que privilegiam a saída de jogo com os zagueiros, mas pode ser uma tendência:
Nos duelos de 5-3-2/3-5-2 e negação de espaços Hummels lança da defesa para Schweinsteiger
Os 11 alemães estão no campo de ataque (Kimmich fora do frame) e sem espaços, Boateng acha um lançamento excelente para Hector.
Aqui em vídeo via @Felipeavr:
Jerome Boateng pasa entre líneas, salta líneas, abre el campo y comprime al rival conduciendo hacia adelante. #GER pic.twitter.com/BpTSEJp0P3— Felipe Araya (@Felipeavr) July 3, 2016
Importante observar que, na minha modesta visão, não se trata de chutão para ver no que é que dá, mas sim de bola trabalhada até o espaço ser aberto:
Como tinha achado contra a Bélgica, por exemplo...
Aqui em vídeo via @Felipeavr::
— Felipe Araya (@Felipeavr) June 27, 2016
E não é algo exclusivo de Itália e Alemanha. Gales também fez isso com Ashley Williams subindo muito e a própria Juventus também já teve seus momentos. No Brasil lembro muito de São Paulo x Coritiba em 2015, quando Lucão iniciou duas jogadas de gol com lançamentos para Pato
Osorio preconizava passes até a formatação ofensiva e incentivava os zagueiros a lançarem e avançarem
com a bola
com a bola
Mas os zagueiros criadores não se resumem a lançamentos e chutões. O posicionamento e avanço deles no momento certo podem quebrar as linhas do adversário e causar danos. Voltemos aos alemães contra os italianos...
Aqui estão os três zagueiros da Alemanha no campo ofensivo. Howedes à frente do meia armador, Boateng opção de retorno e Hummels se projetando no espaço vazio.
Hummels também achou bom e veio participar.
Agora vamos pensar... E se fosse de repente um meia armador ou ponta na zaga? Um Douglas Costa capaz de quebrar linhas? E se ele atuasse como zagueiro? Espaço gigante vindo de trás com possibilidade de projeção... E se fosse um defensor com essas características?
E se houvesse ousadia e espaço para uma linha de três zagueiros com:
- Um carregador de bola
- Um lançador
- Um driblador
Já imaginaram o estrago?
Nada de especialistas por aqui! O defensor universal está a caminho!