quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Os problemas defensivos que impedem o São Paulo 20-21 de brigar por coisas grandes

 A derrota para a LDU do Equador em Quito deixou o São Paulo com chances mínimas de classificação à próxima fase da Libertadores. Como de costume os olhos da imprensa se voltaram contra o treinador Fernando Diniz, mas não se aprofundaram nas responsabilidades do treinador e no que vem acontecendo com o time. O gol em erro de saída de bola - primeiro desse tipo em muito tempo - gerou mais debate do que as ideias do time e o que ele apresenta de bom e de ruim nos últimos jogos. Ao mesmo tempo a figura do treinador, o currículo dele e uma resposta tirada de contexto foram muito mais destacadas do que os jogos propriamente ditos. Como não tenho a relevância dos que falam sobre esse tipo de tema, me convém tentar aprofundar um pouco o debate sobre o trabalho de Fernando Diniz à frente do São Paulo. 

De forma resumida, considero que Diniz conseguiu rapidamente dar uma cara a um São Paulo que sabia se defender e não sabia atacar. Era um problema antigo, que vinha desde 2016. Com Bauza, com Ricardo Gomes, com Rogério Ceni, com Dorival Júnior, com Aguirre, com Jardine e com Cuca o São Paulo defendia bem e atacava mal.  Em setembro de 2019 isso começou a mudar a partir do trabalho de Fernando Diniz. Inicialmente foram mudanças discretas que geraram mais volume de jogo ao time, mas com pouca efetividade. Tanto é que o tricolor encerrou 19 com o pior ataque de sua história, anotando 59 gols em 62 jogos no ano. Destes 59, dezesseis foram marcados sob o comando de Fernando Diniz em 17 jogos. 

Em 2020 Fernando Diniz conseguiu imprimir a sua marca ao time. Toque de bola, saídas desde o goleiro, criação de chances e - infelizmente para o treinador - falta de efetividade. Ainda assim o São Paulo chegou à parada pela pandemia com boa campanha no Paulistão e na Libertadores, tendo marcado 18 gols e sofrido 9 gols nas primeiras 12 partidas do ano.  

A pandemia quebrou o bom momento do São Paulo e o retorno não foi nada bom. O ataque seguiu produzindo e a eficiência aumentou, mas a defesa passou a errar como não havia errado nos nove meses anteriores do trabalho de Fernando Diniz.  Para termos uma visão melhor do que ocorreu, quis fazer uma espécie de raio-x dos gols sofridos desde a volta do futebol.  Foram 24 em 15 jogos! É claro que houve vários momentos ruins que não geraram gols do adversário, mas no fundo estamos falando de situações que custam resultados, então meu recorte será nos gols sofridos. 

A ver: 

São Paulo 2x3 Bragantino 

O primeiro gol do Bragantino surge em um erro de saída de bola do São Paulo/desarme do Bragantino no campo de ataque. A bola chega na entrada da área e o tricolor não consegue abafar o chute de Matheus Jesus. 

Momento defensivo do São Paulo sem pressão no zagueiro do Bragantino. A linha defensiva do São Paulo ensaia uma linha de impedimento, mas não sai a tempo. Arboleda até chega na recuperação, mas é driblado e o tricolor toma o gol 



No terceiro gol de novo não há pressão na bola e a virada de jogo chega em Arthur. O São Paulo chega na recuperação, mas defende mal a própria área. Apenas cerca e vê o atacante acertar uma bela finalização.


Guarani 1x3 São Paulo

 


Em que se pese o fato de o time ter sido escalado com reservas, o gol do Guarani é semelhante ao terceiro do Bragantino e a alguns outros que veremos.  Lançador sem pressão vira o lado da jogada, a defesa até se recompõe, mas não há agressividade para encurtar espaços ou desarmar jogadores. Nesse gol ainda tem falha do Volpi.  


São Paulo 2x3 Mirassol


A fatídica eliminação para o Mirassol começa com um gol "inédito" na volta do futebol. Bola parada. Todo o time do São Paulo corre para o primeiro pau e deixa o atacante do Mirassol sem marcação alguma. 


O segundo gol é de uma segunda bola que o São Paulo não consegue lidar.  É uma transição defensiva, mas não houve desarme do Mirassol. Houve uma passividade grande e um time que estava posicionado para atacar e não se armou para lidar com o ataque do rival.  Arboleda e Bruno Alves longe, Reinaldo tentando voltar... 


O terceiro gol é um cruzamento que desvia no lateral, a bola sobe, Volpi e Arboleda se embananam e ninguém encurta Daniel Borges, que acerta uma bela finalização. 


Vasco da Gama 2x1 São Paulo


Olha a bola parada aí de novo! Três na bola, ninguém no Cano. 


O segundo gol do Vasco é uma transição ofensiva veloz depois de Paulinho ser desarmado no meio de campo. O tricolor consegue ainda voltar e fazer um 4 contra 3, mas de novo... Passividade na marcação e muita gente olhando a bola.  O passe pro meio vira simples demais para o segundo gol de Cano. 


São Paulo 1x1 Bahia 



Mais uma vez: pouca pressão em quem lança a bola e linha adiantada. Foi a última partida da dupla Arboleda e Bruno Alves como titulares. 


São Paulo 2x1 Corinthians


Depois de dois jogos sem sofrer gols o São Paulo foi vazado pelo Corinthians. Hernanes deu um chutão para o alto, a bola caiu com Cantillo que encontrou Ramiro entrando e a defesa do São Paulo saindo. Para piorar, Volpi falhou. 


Atlético Mineiro 3x0 São Paulo 


Após 30 minutos excelentes de pressão no campo do adversário e chances de gol o São Paulo teve Tchê-Tchê desarmado na saída de bola. A defesa corre para trás, mas ninguém aperta o "lançador" e Leó se perde na orientação corporal, permitindo que Alan Franco fosse para o gol. 


Mais um dos gols bobos que o São Paulo se acostumou a tomar na volta do futebol. Bico do goleiro Rafael. Ninguém ganha a primeira bola, ninguém ganha a segunda bola.... 


Mais um gol de bola parada. Segundo pau desprotegido.


São Paulo 3x1 Fluminense


Provavelmente o mais bobo dos bobos gols sofridos pelo São Paulo. Bico do goleiro e Igor Vinícius é driblado pelo quique da bola 


São Paulo 1x1 Bragantino





Mais uma vez o São Paulo toma um gol pela pouca pressão em quem tem a bola. Claudinho vira o jogo para a esquerda. Mais uma vez o São Paulo chega a tempo de fazer algo, mas Hernanes dá o bote errado e a área fica livre. 


Santos 2x2 São Paulo

Bola parada. Madson ganha no alto e faz o gol. O segundo não tem print. O goleiro decidiu defender uma falta sem barreira...


São Paulo 2x2 River Plate 



Outra vez! Lançamento sem pressão, bola nas costas da defesa. O São Paulo chega a tempo, mas é passivo na marcação. 




Bola parada, o São Paulo afasta a primeira, afasta a segunda, mas ela fica dentro da área. Reinaldo e Igor não se decidem. Ninguém vai na bola e o River marca o gol. 


LDU 4x2 São Paulo 


A pior exibição defensiva do time veio no jogo mais importante desde a eliminação no Paulista. Borja faz um dois e corre para dentro da área. Mesmo em superioridade numérica os são-paulinos olham o centroavante entrar e cabecear. 


O famigerado erro da saída de bola. Igor Gomes mandou na fogueira. Hernanes de costas (posicionamento corporal equivocado) não soube que estava tão pressionado.  Foi o único erro do tipo que resultou em gol do adversário nesse período pós-paralisação. 


Lançamento da defesa, Diego Costa ganha a primeira. Ninguém do São Paulo está próximo para a segunda bola...  Muito espaço para dois zagueiros defenderem. 


Pra fechar... Bola sai do lado pro meio.  São Paulo tem quatro dentro da área e um tentando encurtar... Fácil, fácil para Billy Arce. 


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Terminamos! Em suma, na minha avaliação os 24 gols sofridos pelo São Paulo podem ser definidos em: 


Pouca pressão na bola e comportamento ruim na defesa à própria área:  12 gols (Dois contra o Bragantino, contra o Guarani, contra o Mirassol, contra o Vasco, contra o Bahia, contra o Galo, contra o Bragantino no BR, contra o River, três contra a LDU)

Erros na bola parada: 4 gols (Zé Antônio Mirassol, Juanfran e cia contra o Vasco, Bueno contra o Galo, Diego Costa e Leo contra o Santos)

Erros na saída de bola: 3 gols (Reinaldo/Igor desarmados contra Bragantino, Tchê-Tchê contra o Galo, Hernanes e Igor contra LDU) 

Falhas individuais (goleiro/zagueiro): 5 gols (Volpi/Arboleda contra Mirassol, Volpi contra Corinthians, Igor Vinícius contra o Flu, Volpi contra Santos, Igor/Reinaldo contra River Plate) 


Razões para essas falhas?  Cada caso é um caso, mas de forma bem geral... Acho que o São Paulo tem tentado subir a marcação sempre, mas com os atacantes e a linha de meiocampistas. Com isso a defesa fica longe.  Pra piorar, mesmo quando eles se recuperam há pouca combatividade na hora de encurtar os espaços. Os atletas parecem mais fechar linha de passe do que dar combate. Pode ter a ver com Leo e Diego serem mais novos no time titular e com o pouco poder de marcação dos laterais. Certamente a falta de velocidade de Hernanes e Bueno para a volta também influencia. Tche Tche quase sempre sobe pra pegar a bola lá na frente, então fica longe também... 

Na bola parada, erros essencialmente de posicionamento. Alguns de passividade de ficar olhando a bola.

Volpi não vive grande fase. Bolas fáceis viraram problema e faltou domínio da área em alguns lances.  

Por fim, a saída de bola teve problemas com Igor Gomes em duas das três ocasiões. Posicionamento do corpo e erro técnico influenciam... 


Bom... Fico por aqui!  Podemos falar do ataque também em um outro momento, mas não é esse meu ponto. Se a defesa do São Paulo tivesse mantido o desempenho pré-pandemia o time estaria bem melhor posicionado. Afinal de contas, os 24 gols marcados em 15 jogos constituem uma marca muito boa, que fica um pouco abaixo do Inter (26 gols em 17 jogos), do Galo (31 gols em 16 jogos) e do Flamengo (26 gols em 18 jogos). Fica acima, por exemplo, de Palmeiras (22 gols em 17 jogos), Grêmio (20 gols em 18 jogos), Vasco (21 gols em 14 jogos). 




Um comentário:

  1. Perfeito Dudzi, gostei muito do texto. Embora haja falhas individuais, a maior parte dos gols são problemas coletivos em que ou o técnico ou não consegue identificar e corrigir ou os jogadores não conseguem executar o que se pede. Como não vemos treinos nem orientações em treinos/ jogos fica difícil a conclusão. Caberia a diretoria fazer essa análise lá pra ver até que ponto está a responsabilidade do treinador e/ou de jogadores. Se dão tanto respaldo assim pro treinador, devem entender que são os jogadores que estão executando mal apenas. Eu já acho que isso sempre foi defeito em times do Diniz e que ele tem muita dificuldade de corrigir.

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