sexta-feira, 17 de maio de 2019

Prefácio: Bielsa é um perdedor


Marcelo Bielsa é um perdedor.  

Quanto mais cedo tirarmos isso do caminho, melhor! 

Em quase 30 anos de carreira o treinador argentino obteve apenas quatro títulos, sendo o mais recente deles o ouro olímpico de 2004 com a seleção sub-23 da Argentina. Sob a ótica das conquistas, Bielsa é um dos piores técnicos em atividade no futebol mundial. Não há como negar. 


Sob esse mesmo enfoque, nomes como José Mourinho, Pep Guardiola, Carlo Ancelotti, Luiz Felipe Scolari, David Jeffrey (31 conquistas pelo Linfield, da Irlanda do Norte), Marcelo Gallardo, Dunga, Luxemburgo, Allegri, Zidane, Edgardo Bauza, Simeone, Givanildo Oliveira, Unai Emery, Viktor Goncharenko (multicampeão pelo Bate Borisov), Mircea Lucescu, Fábio Carille e outros são treinadores bem superiores. Não há como negar. 

A questão é que, para cada técnico que ganha um campeonato, há 17, 19, 23 ou mais que não ganham. E isso, obviamente, não significa necessariamente  que todos sejam maus treinadores.  Um dos finalistas da Liga dos Campeões da Europa não tem título algum na carreira, enquanto o outro tem três conquistas em 20 anos como técnico. Da mesma forma, o comandante do Chelsea, finalista da Liga Europa, nunca venceu um troféu em 30 anos de profissão, o jovem e promissor técnico do Hoffenheim ainda não tem taças para celebrar, assim como o experiente e ousado comandante do Betis, que entra no seu vigésimo ano como treinador. Ninguém, no entanto, se disporia a minimizar os feitos de Pochettino, Klopp, Sarri, Nagelsmann, Quique Setién e tantos outros não é mesmo? Todos são vencedores dentro de uma outra ótica e assim também é Marcelo Bielsa. 


Não, não vou caminhar pela trilha dos valores pregados, da influência que teve em outros treinadores, dos jogadores que se desenvolveram com ele, da beleza do futebol ou de alguma poesia intrínseca. Tudo isso tem valor para mim e para outros, mas é algo bastante subjetivo. Vou falar de trabalho, desempenho e resultado, que são mais objetivos. 

Antes de falar do Leeds, no entanto, vou falar do que Bielsa fez desde 2004, quando conquistou seu último título meses antes de deixar a seleção argentina. Após um período sabático de quase três anos, Bielsa treinou o Chile, o Athletic Bilbao, o Olympique de Marseille, o Lille e agora o Leeds. Não ganhou nenhum título, como vocês sabem. A pergunta é: deveria ter ganhado?  Deveria ser cobrado por ganhar um título? 


A seleção chilena não tinha nenhuma taça (nem Copa América) até 2015, quando Jorge Sampaoli, que herdou uma filosofia de jogo e um time do supracitado Bielsa, bateu a Argentina nos pênaltis. No ano seguinte, Pizzi repetiu a dose na Copa América Centenário. O Bilbao, que chegou às finais da Liga Europa e Copa do Rei com Bielsa em 2012, não ganhava nada desde 1984 e assim segue, exceção feita à Supercopa da Espanha de 2015. O Olympique de Marseille, treinado por Bielsa na temporada 2014-15, segue sem taças desde 2012, enquanto o Lille, que fez uma ótima temporada 2018-19, não ganha troféus desde 2011. Ou seja, medir esses trabalhos pela quantidade de títulos é um despropósito. Se fôssemos por esse caminho, teríamos que avaliar como ruins quase todos os trabalhos da história recente desses times, o que é uma simplificação absurda. 

Pessoalmente, considero que o Lille é um trabalho ruim de Bielsa e também por isso o único no qual ele foi demitido. Ali as expectativas eram altas e a realidade foi muito abaixo, com o time brigando contra o descenso. Nos demais trabalhos, a expectativa normalmente era menor do que foi a realidade. De novo... Há aspectos que vão bem além de resultado, mas quero me manter na letra fria dos pontos e conquistas para provar meu ponto. 


O Chile, que não ia a uma Copa do Mundo desde 1998 e que não ganhava um jogo em Mundiais desde 1962, fez os dois com Bielsa antes de cair para o Brasil, na África do Sul. O Bilbao, que não ia a uma final de competição europeia desde 1977, o fez em 2012, batendo o Manchester United de Ferguson no Old Trafford nas oitavas de final. O Olympique de Marseille foi o líder do Francês por metade do campeonato, já na  fase gastona do PSG, e terminou a temporada em quarto lugar. 

Obviamente que esses feitos só aumentaram as respectivas decepções pelas conquistas não terem vindo, mas aí cabe a quem olha analisar: é melhor ter chegado perto ou nem ter chegado? O que diz mais sobre um trabalho? Onde estava o time antes e onde ele chegou?  Bom... 


Caminha por aí a minha análise sobre o Leeds United. Se você chegou até aqui e não quer saber onde o time estava e onde chegou, então não tem para quê ler o próximo post. Mas se você chegou até aqui e entendeu o meu raciocínio, aguarde, pois vamos destrinchar o que houve, o que deu certo, o que deu errado e o que era o esperado. 


2 comentários: